Vítimas de ataques muçulmanos durante anos, os cristãos coptas do Egito viram crescer a violência contra igrejas, mosteiros, orfanatos e escolas desde o último dia 3 de julho, quando um golpe depôs o ex-presidente, Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana. E de acordo com grupos de direitos humanos, as investidas não tem sido impedidas pelas autoridades egípcias.
"Estou com muito medo. E eu tenho medo pela minha filha", disse Mona Roshdy, 55 anos, ao jornal USA Today quando deixava a igreja com sua família.
Ela tem motivos para se assustar. Desde quarta-feira (14), quando a polícia destruiu dois acampamentos da Irmandade no Cairo, deixando mais de 630 pessoas mortas, ao menos 17 igrejas foram atacadas por ativistas islamistas. Em Suez, autoridades entregaram 84 pessoas a promotores militares sob acusação de assassinatos e ataques contra a comunidade cristã copta, cerca de 10% da população do Egito - o equivalente a 8 milhões de pessoas.
Diante dos ataques, nesta quinta-feira (15) um assessor especial do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou para o risco de represálias contra os cristãos. Juntamente com a assessora para a Responsabilidade de Proteção, Jennifer Welsh, Adama Dieng expressou sua preocupação diante da escalada da violência no país. Os dois disseram acompanhar com preocupação o número de igrejas e instituições cristãs atacadas depois dos incidentes no Cairo.
Como se pressentisse problemas, apenas dois dias antes do massacre de quarta-feira, o Papa copta Tawadros II apelou a todos os egípcios para evitar derramamento de sangue.
"Com toda a compaixão exorto todos a conservar o sangue egípcio e peço que evitem a agressão a qualquer pessoa ou propriedade", escreveu em sua conta oficial no Twitter, na segunda-feira (12).
Youssef Sidhom, editor-chefe da revista cristã semanal Watani, disse que os ataques recentes são dolorosos e cruéis e podem dividir ainda mais as duas religiões.
"Os cristãos não devem ser movidos por isso, não devem ser arrastado para cumprir o objetivo que está por trás desta violência, que é o de segregar a solidariedade nacional entre cristãos e muçulmanos neste momento difícil pelo qual o Egito está passando", disse.
No Cairo, o grupo de direitos humanos Youth Union Maspero acusou a Irmandade de "travar uma guerra de retaliação". O que não é negado por parte da Irmandade Muçulmana.
"Não desgosto deles como uma seita ou como povo. Ao contrário", afirmou uma figura sênior da Irmandade ao Guardian no início deste mês. "Nossa preocupação é que eles cegamente apoiaram um militar e uma velha guarda que se apoderou dos nossos direitos legítimos".
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