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Iraquianos em Bagdá assistem ao discurso do presidente norte-americano, Barack Obama, realizado no Cairo na última quinta-feira: tentativa de reaproximação com o mundo muçulmano | Ahmad Al-Rubaye/AF
Iraquianos em Bagdá assistem ao discurso do presidente norte-americano, Barack Obama, realizado no Cairo na última quinta-feira: tentativa de reaproximação com o mundo muçulmano| Foto: Ahmad Al-Rubaye/AF

Reação árabe

Veja como foram as primeiras reações no mundo árabe ao discurso de Obama:

"O governo israelense expressa sua esperança de que o importante discurso do presidente Obama leve a uma nova era de reconciliação entre o mundo árabe e muçulmano e Israel."

Governo de Israel

"A parte do discurso de Obama relativa à questão palestina é um passo importante em direção a um novo começo. Mostra que existe uma política americana nova, diferente, em relação à questão palestina."

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina.

"Falar a respeito de uma política de guerra contra o extremismo e do trabalho para a criação de dois Estados para as pessoas nas terras palestinas não é diferente da política de seu predecessor, George W. Bush."

Ayman Taha, porta-voz do Hamas na Faixa de Gaza.

"O mundo islâmico não precisa de sermões morais ou políticos. Precisa de uma mudança fundamental na política americana, começando com a suspensão do apoio à agressão israelense na região."

Hassan Fadlallah, legislador do Hezbollah no Líbano.

Após discussão ao Islã, desafio é transformar palavras em ação

O primeiro golpe de realidade contra o novo governo norte-americano após o discurso de Barack Obama no Egito pode vir hoje, do Líbano. O país realiza eleições para escolher 128 novos parlamentares. Pesquisas apontam a vitória por uma margem estreita da coalizão oposicionista 8 de Março – liderada pelo Hezbollah, considerado grupo terrorista pelos EUA. A eventual vitória da oposição pode significar um fortalecimento de Irã e Síria na região – dois aliados históricos do grupo xiita.

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Durante o governo George W. Bush, uma série de acontecimentos se somaram para destruir o já fraco canal de comunicação entre árabes e americanos: os atentados de 11 de setembro, a Guerra no Iraque e o tratamento de prisioneiros muçulmanos em Abu Ghraib e Guantánamo criaram um cenário de "Choque das Civilizações", conforme imaginado pelo cientista político Samuel P. Huntington.

Cumprindo promessa de campanha, Barack Obama foi ao Egito na última semana tentar reatar relações. Há quem já esteja comparando o discurso no Cairo ao famoso "Ich in ib Berliner", de John F. Kennedy, proferido em Berlim durante a Guerra Fria. Como Kennedy, Obama mostrou simpatia e arriscou algumas palavras na língua local. Mais do que isso: abordou temas delicados – democracia e direito das mulheres no Oriente Médio, negação do Holocausto, proliferação nuclear e erros de governos americanos anteriores. Se não agradou a todos, certamente mostrou boa vontade para reiniciar um diálogo com o Islã.

Segundo Shibley Telhami, professora da Universidade de Maryland, só o fato de haver uma audiência muçulmana a um presidente americano já é um avanço. "O que é novo é que as pessoas estão ouvindo este presidente", disse ela. "Eles o ouviram demonstrar simpatia pelos assuntos deles. Eles o ouviram expressar uma compreensão não apenas da religião e da cultura deles, mas também de seus problemas."

Mas, como o próprio Obama admitiu, um discurso não resolve problemas. Agora, a grande questão a ser respondida é como transformar as palavras em avanços concretos. Logo após o discurso, Obama deu uma entrevista coletiva a um seleto grupo de jornalistas árabes. O primeiro questionamento foi justamente o que o presidente norte-americano faria caso os israelenses não seguissem a etapa um do Mapa da Paz, documento que prevê a criação de um Estado palestino. A primeira etapa é o congelamento de novos assentamentos judeus na Cisjordânia. A resposta do presidente não foi nada mais do que engazopamento. Disse que os EUA não estão emocionalmente envolvidos no conflito e, portanto, tentarão fazer uma mediação justa.

"O presidente dos Estados Unidos não é um mediador honesto entre a América e o resto do mundo", criticou David Frum, ex-assessor de George W. Bush e supostamente o responsável pela criação do termo "eixo do mal". "Ele é o líder dos Estados Unidos, e, portanto, se posicionar dessa forma como mediador é realmente uma coisa surpreendente a se fazer. E isso gera a questão que, se o presidente é o mediador, quem é o representante da América?".

O grande desafio de Obama será o de criar um ponto em comum entre as partes em conflito. Hoje, a briga está dominada pelos extremos – o diálogo é praticamente impossível. Os israelenses indagam: negociar com quem? Desde julho de 2007 os palestinos estão divididos entre o Fatah, que controla a Cisjordânia, e o Hamas, que domina a Faixa de Gaza. Ainda nesta última semana os dois grupos se enfrentaram. Enquanto o laico Fatah é nos olhos de Israel um interlocutor viável, o Hamas está longe disso – foi o inimigo da última guerra em Gaza e é considerado grupo terrorista, inclusive pelos EUA. Como fechar um acordo com só metade da população?

Do lado palestino, também há muitas queixas. Após o discurso de Obama, oficiais israelenses se pronunciaram dizendo que os assentamentos não vão parar. O primeiro-ministro isralense, Benjamin Netanyahu, terá que escolher entre apoiar os pedidos de Obama para uma nova política, e arriscar bater de frente com sua coalizão direitista de governo, ou rejeitar a visão dos EUA e desafiar o principal aliado de Israel.

Estão aí dois pontos importantes que serão avaliados para medir a capacidade de Obama em resolver os problemas no Oriente Médio: 1) criar uma unidade palestina pacífica e 2) fazer os israelenses aceitarem concessões para a criação de dois Estados. Seu sucesso vai medir também quão histórico foi o discurso da última quinta-feira.

Interatividade

Obama será um bom mediador do conflito entre palestinos e israelenses?

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