Supostos contrabandistas palestinos voltaram nesta quarta-feira (28) a trabalhar no reparo dos seus túneis entre Egito e Faixa de Gaza, horas depois de um bombardeio israelense que tinha a intenção de destruí-los.
"Eles jogaram duas ou três bombas. Mas, olhe, todo mundo ainda está trabalhando", disse um escavador que se identificou com o apelido de Abu Ali e disse ter 30 anos.
Israel já havia bombardeado duramente esses túneis durante a recente ofensiva de 22 dias, já que a rede subterrânea sob a fronteira é usada pelo grupo islâmico Hamas para se abastecer de armas. Por causa do bloqueio israelense, os túneis servem também para o tráfego de alimentos e outros produtos, tornando-se essenciais para os 1,5 milhão de habitantes da região.
Na terça-feira (27), depois de 10 dias de trégua na Faixa de Gaza, Israel voltou a bombardear os túneis, em resposta a uma explosão provocada por militantes palestinos matou um soldado israelense, em uma outra zona de fronteira. Não ficou claro se a bomba palestina foi plantada antes ou depois do cessar-fogo.
O gabinete de segurança de Israel deve decidir ainda nesta quarta até que ponto deve ser a resposta militar às novas ações do Hamas.
Quem vê as volumosas escavadeiras amarelo-berrante trabalhando no chamado Corredor Philadelphi, que separa a Faixa de Gaza da península do Sinai (Egito), não imagina que haja algo de clandestino nessa atividade. A apenas 50 metros dali, guardas egípcios assistem a tudo.
"Estou assustado porque tenho de trabalhar. Que mais posso fazer? Esse é o único emprego", disse Mohammed, 17 anos, acrescentando que pretende usar o túnel onde trabalha para trazer roupas para Gaza.
Muitos desses túneis contam com sistemas sofisticados e parecem ter resistido intactos às três semanas de bombardeios.
O Egito, que em geral mantém fechado o acesso fronteiriço oficial, em Rafah, aceitou realizar uma ação contra o contrabando, com assistência técnica internacional, mas ainda não há um plano definido para isso.
O combate internacional ao contrabando de armas para o Hamas em Gaza foi uma das principais exigências de Israel para declarar uma trégua. Já o Hamas exige que Israel suspenda o bloqueio econômico em vigor desde 2007, quando o grupo islâmico expulsou as forças da facção laica Fatah do território.
Enviado de Obama
George Mitchell, enviado do presidente dos EUA, Barack Obama, à região, chegou a Israel nesta quarta e planejava se reunir com líderes israelenses ainda na quarta-feira e falará com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, na quinta-feira.
A visita de Mitchell coincide com um pedido de Obama para a retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos.
Em Jerusalém, Mitchell encontrou-se com o presidente de Israel, Shimon Peres, e deve falar com o premiê, Ehud Olmert, e com militares.
Fontes do Ministério da Defesa de Israel disseram que o ministro Ehud Barak cancelou visita aos EUA por conta da situação em Gaza.
Diplomatas ocidentais disseram que não se reunirão com representantes do Hamas, grupo que comanda a Faixa de Gaza e que é criticado pelos Estados Unidos e pela União Europeia por sua recusa em reconhecer o direito de Israel de existir, de renunciar à violência e aceitar os acordos de paz existentes.
Mas uma escalada da violência tem ameaçado as declarações separadas de cessar-fogo feitas por Israel e pelo Hamas em 18 de janeiro, após uma ofensiva israelense de 22 dias com o objetivo de pôr fim ao lançamento de mísseis contra o território do país.