O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, obteve uma vitória contundente nas eleições de domingo, conquistando 62,2% dos votos e se transformando no primeiro presidente reeleito em mais de um século no país. Ele enfrenta agora um segundo mandato cheio de desafios nas áreas social e de segurança.
Os 7,3 milhões de votos recebidos por Uribe foram interpretados como um reconhecimento pela sua política linha dura contra a guerrilha.
- É um apoio sólido à política de segurança democrática - disse na segunda-feira o senador Germán Vargas, de um partido integrante da coalizão que apóia Uribe.
Um dos primeiros desafios do presidente reeleito será consolidar a questionada negociação de paz com os esquadrões paramilitares de ultradireita e evitar o reagrupamento dos combatentes, afirmou o analista Rubén Sánchez.
Embora 30 mil paramilitares já tenham se desarmado, há o temor de que surjam novos esquadrões para ocupar os espaços vazios, ou que a guerrilha de esquerda se aproveite da situação promovendo uma expansão militar para várias regiões do país.
O pleito de domingo também consolidou a esquerda como a segunda força política do país. O candidato Carlos Gaviria, do Pólo Democrático Alternativo, recebeu 2,6 milhões de votos, o equivalente a 22,04%.
Os resultados marcaram o desaparecimento do bipartidarismo tradicional da política colombiana, representado pela divisão entre liberais e conservadores.
- Acredito que seja o fim do bipartidarismo e o início de uma política baseada em coalizões: uma coalizão que vai do centro até a esquerda e outra que vai do centro até a direita - disse à Reuters Rafael Guarín, analista da Universidade El Rosario.
Pela primeira vez, o Partido Liberal, que historicamente alternava o poder com o Partido Conservador, ficou relegado ao terceiro lugar, com 1,4 milhão de votos para Horacio Serpa.
Já o Partido Conservador sequer apresentou candidato, e pela segunda vez consecutiva uniu-se à coalizão que apoiou Uribe.
O presidente, considerado aliado-chave dos Estados Unidos na América Latina, terá de manter a política de segurança, avançar nas negociações de paz e também adotar mais programas sociais para combater a pobreza e o desemprego.
Para o senador Vargas, apesar do grande índice de abstenção, por volta de 55%, a votação maciça em Uribe demonstra que a população está esperançosa quanto ao seu projeto de crescimento econômico e a sua política social.
Sánchez, diretor de Ciências Políticas da Universidade de Rosário, disse que Uribe precisará combater a pobreza, que afeta metade dos 41 milhões de habitantes do país - uma das maiores críticas do primeiro mandato.
O presidente anunciou, em seu primeiro discurso, que tentará criar mais e melhores empregos, além de combater a pobreza com investimentos estrangeiros e com o livre-comércio.
Como candidato, Uribe havia dito que estava disposto a buscar o diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o maior grupo guerrilheiro do país. Mas, segundo Sánchez, dificilmente a guerrilha aceitará dialogar. Ele advertiu para o risco de uma escalada nos ataques com o objetivo de desprestigiar a política de segurança de Uribe.
- As Farc estão debilitadas, mas estrategicamente ainda têm muito potencial, e enquanto o governo de Uribe mantiver sua política de segurança, acho que não há muito que se possa fazer - afirmou.
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