As eleições primárias na Argentina se desenvolveram com tranquilidade neste domingo (14), segundo a Câmara Nacional Eleitoral, equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro. Sem urna eletrônica no país, a apuração será lenta, especialmente para contagem dos votos do maior colégio eleitoral do país, a província de Buenos Aires, que representa 37,52% dos eleitores.
Pelo tamanho da sua representatividade, a província define as eleições presidenciais do país. Dezenas de mesas eleitorais sofreram atrasos na abertura. Algumas, em consequência da falta de urnas e cédulas, outras por ausência de mesários. Nos distritos eleitorais onde a disputa é mais apertada entre o governo e os candidatos da oposição, é comum o "desaparecimento" das cédulas. Isso ocorre porque as cédulas, que parecem panfletos, são distribuídas pelos partidos políticos e não pela Justiça Eleitoral, como ocorre no Brasil.
A responsabilidade pela confecção e distribuição das cédulas é inteiramente dos partidos, que as deixam na seção eleitoral à disposição dos eleitores. Qualquer eleitor que entra na sessão tem acesso a todas as células, que não são controladas por nenhum fiscal ou mesário. O sistema eleitoral argentino é arcaico, sujeito a intempéries políticas e de difícil compreensão para os eleitores brasileiros. As candidaturas funcionam com listas fechadas.
As listas são ordenadas pelos partidos e encabeçadas pelos políticos mais conhecidos, os que puxam os votos para os candidatos das listas. São múltiplas listas dentro de um mesmo partido porque há diferentes coligações nacionais, provinciais (estaduais) e municipais. Muitas vezes, quem está votando guiado pelos nomes dos primeiros das listas não consegue saber bem em quem realmente está votando.
Os 11 milhões de eleitores bonaerenses compõem um voto tradicionalmente peronista, dividido entre o voto urbano e rural. No primeiro, a Casa Rosada teme o "voto vingança" contra a presidente Cristina Kirchner provocado pelos líderes excluídos das listas através do "corte de boleta" - o eleitor pode cortar a cédula e votar, por exemplo, em Cristina para presidente, mas não na sua lista de candidatos aos demais cargos. No segundo, o temor está relacionado ao "voto do campo", que representa os produtores rurais, em conflito com Cristina desde 2008.
Exemplo disso ocorreu em Santa Fé e Córdoba, segundo e quarto maiores colégios eleitorais do país, e que concentram grande parte da produção agrícola nacional. Nestas províncias, o grupo político da presidente, a Frente pela Vitória (FPV), amargou derrotas esmagadoras, que foram somadas aos resultados da capital federal, onde a derrota oficial foi humilhante.
Formalmente, o candidato da Casa Rosada ao governo da província de Buenos Aires é o atual governador, Daniel Scioli. Mas também há outras duas listas peronistas encabeçadas por Cristina Kirchner concorrendo ao governo: Mario Ishii e Martín Sabbatella. Nos 135 municípios de Buenos Aires, as múltiplas listas se replicam, complicando a apuração dos votos.
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