O presidente da Costa Rica, Oscar Arias, entregou na noite desta quarta-feira (22) uma nova proposta para resolver o impasse político em Honduras, mas persistem divergências profundas entre as duas partes e não houve acordo.
"As partes cederam em alguns pontos, mas não cederam em coisas fundamentais, entre as quais, é claro, a mais importante que é volta do presidente José Manuel Zelaya a Honduras e ao cargo", reconheceu Arias, que se despediu do processo de mediação que o levou a patrocinar quatro encontros entre as duas partes na capital da Costa Rica.
Zelaya foi derrubado por um golpe de estado no último dia 28. O Congresso de Honduras nomeou o seu chefe, Roberto Micheletti, como presidente interino do país. Nenhuma outra nação reconhece o governo interino de Honduras.
Arias disse que agora apenas as duas partes "devem decidir se assinam o acordo". Segundo ele, a partir de agora as duas partes podem acudir "à Organização dos Estados Americanos (OEA) ou a algum outro fórum de diálogo", mas lembrou que o tempo é escasso
Venezuela
A Venezuela afirmou nesta quarta-feira que seu pessoal diplomático não vai deixar Tegucigalpa, a capital de Honduras, apesar da ordem de expulsão que o governo interino hondurenho emitiu, além de anunciar que vai utilizar "todos os recursos necessários para preservar a integridade de seus funcionários.
O governo venezuelano emitiu um comunicado segundo o qual "desconhece" a ordem comunicada na véspera pela chancelaria do governo de Roberto Micheletti "por não constituir numa manifestação oficial emitida pelo governo constitucional e legítimo".
As autoridades de facto hondurenhas deram um prazo de 72 horas ao pessoal diplomático venezuelano para que deixem o país e também informaram que vão retirar seus diplomatas da embaixada em Caracas.
"O governo venezuelano vai utilizar todos os recursos necessários para preservar a integridade de sua missão diplomática em Tegucigalpa", assinalou o comunicado da chancelaria.
O ministro de Relações Exteriores do governo interino de Honduras, Carlos López, disse nesta quarta-feira numa coletiva de imprensa que após o prazo de 72 horas, os diplomatas venezuelanos "deixam de gozar do estatuto diplomático de acordo com a convenção de Viena".
A Venezuela pediu, em comunicado às autoridades do país centro-americano, para se "abster de dispersar um tratamento ultrajante a qualquer membro de sua missão diplomática venezuelana em Honduras, sob pena de incorrer em uma violação grave da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas que acarretaria responsabilidade internacional".
Micheletti afirmou nesta quarta-feira que esperava que os funcionários venezuelanos cumprissem a ordem de expulsão e justificou a medida alegando que tinham informações de que eles estavam "envolvidos nos movimentos que acontecem em nosso país".
A vice-chanceler do governo hondurenho, Marta Lorena Alvarado, lembrou que a decisão foi tomada porque "fomos duramente atacados pelo governo da Venezuela".
O encarregado de negócios da embaixada venezuelana em Tegucigalpa, Ariel Vargas, disse à imprensa que não vai acatar a medida porque para Caracas "o governo de Micheletti não existe".
Logo após a deposição do presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho, a Venezuela retirou seu embaixador em Honduras, Honduras Armando Laguna.
A missão diplomática venezuelana na capital hondurenha é composta penas por Vargas e uma outra funcionária.
Micheletti foi designado pelo Congresso após a expulsão de Zelaya, mas não foi reconhecido pela comunidade internacional, que propõe a restituição do líder deposto.
Cuba
A mediação da crise política em Honduras pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, é uma manobra dos Estados Unidos para suavizar seu apoio ao golpe militar aplicado contra Manuel Zelaya, opinou nesta quarta-feira o ex-presidente cubano Fidel Castro.
"Os Estados Unidos manobraram para ganhar tempo. O Departamento de Estado incumbiu Oscar Arias de auxiliar o golpe militar em Honduras, assediado pela vigorosa, porém pacífica pressão popular", escreveu Fidel em uma de suas Reflexões publicada hoje no Granma, jornal oficial do Partido Comunista cubano.
Fidel acrescentou que "o golpe de Estado em Honduras, promovido pela extrema direita dos Estados Unidos e apoiado pelo Departamento de Estado, evoluiu mal por causa da enérgica resistência do povo".
Segundo ele, os EUA inclinaram-se pela mediação de Arias por sua condição de Prêmio Nobel da Paz. Fidel qualificou o presidente costarriquenho como "um político neoliberal talentoso, habilidoso com as palavras e aliado fiel dos Estados Unidos".
Ainda de acordo com o cubano, o plano de sete pontos apresentado por Arias no sábado "equivaleria a uma carta de rendição de Zelaya". No entanto, não houve acordo e Zelaya pediu 72 horas para elaborar uma nova tentativa de solução para a crise.
"Penso que até o próprio Arias caiu na grande armadilha montada pelo Departamento de Estado", especulou Fidel. "O povo de Honduras dará a última palavra", concluiu. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.
Brasil
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira que o governo brasileiro quer a volta imediata do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, ao seu país, "por meios pacíficos". Em entrevista no Itamaraty, depois de receber o chanceler israelense, Avignor Lieberman, Amorim disse que os golpistas que destituíram Zelaya "têm de entender que há um clamor da comunidade internacional" para que o presidente deposto volte a Honduras.
"O Brasil é totalmente a favor da volta do presidente de Honduras. Evidentemente, queremos que isso se realize por meios pacíficos", disse o ministro, ao argumentar que "raramente viu um assunto internacional com tanta unanimidade. "Os únicos que estão pensando diferente são os que deram o golpe em Honduras. Então, eles têm de perceber que a humanidade inteira, que os governos todos estão pensando de maneira diferente", afirmou Amorim. Ele lembrou que os Estados Unidos, a União Europeia e países da América Latina e do Caribe já se posicionaram contra a expulsão por forças militares hondurenhas de Zelaya e, em represália, já determinaram a suspensão de ajuda a Honduras.
Na avaliação do ministro brasileiro, a insistência dos golpistas em manter-se no poder está "apenas retardando a agonia". "Eles (golpistas) não têm condições de ficar. Isso traz prejuízo para o povo hondurenho.
O povo hondurenho é que vai sofrer se eles não saírem logo", observou Amorim. "É muito importante que esses que deram o golpe compreendam que eles poderão melhorar muito a situação se eles rapidamente aceitarem a volta do presidente Zelaya", afirmou o ministro. As informações são da Associated Press.