Goudou-goudou- O som daqueles 35 segundos de pavor em que a terra tremeu, descrito por muitos haitianos como “goudou-goudou”, foi um divisor de águas na vida de Kenchy Eneus. A mãe morreu dentro da casa de alvenaria, na mesma favela de Cité Soleil onde hoje ele vive com o pai. Com ele, aprendeu a ler e escrever e falar francês – em geral, só aprendido na escola, que ele nunca frequentou, e um meio de ascender socialmente. Sobre sua bicicleta, ele conta que sonha ser engenheiro civil, para ajudar o Haiti| Foto: Fotos: Antonio Costa – Enviado especial/ Gazeta do Povo
Escape- Choca perceber no Haiti um alto índice de abandono materno de crianças. Foi o caso de David, de 3 anos. Com poucos meses, ele escapou de morrer num lixão, onde estava a ponto de ser largado pela mãe, com a justificativa de que a pessoa que havia se comprometido a comprá-lo por US$ 25 não fechara o
Possível pela fé-
Formiguinha- De algum canto da barraca que divide com a mãe e quatro irmãos em uma praça de Porto Príncipe desde 13 de janeiro de 2010, Francesse Michel tira um livro de escola e sugere, tímida, que poderia recitar de cor um poema. Era
Saúde pública- Ela se orgulha de ser a única haitiana a dirigir um programa da ONG brasileira Viva Rio em Porto Príncipe. Trata-se de uma clínica aberta ao público, em que Rosiane Siméon comanda o atendimento de até 300 pessoas por dia junto a outros quatro médicos. Dos 79 formados na turma dela de medicina na Universidade do Estado do Haiti, poucos ficaram no país. Ela fica indignada e diz que 80% do investimento haitiano na área deveria ir para saúde pública.
Corais negros- Para sustentar os 13 filhos que teve com 3 mulheres, Pierre Lessort já fez de tudo. Hoje planta bananas e vende os colares que o filho produz com corais negros, mas já pescou muito e dirigiu lanchas para hotéis de luxo. Aos 70 anos, pode se considerar um sobrevivente num país onde a expectativa de vida não chega aos 60. A vida calma que leva na praia paradisíaca a 50 km da caótica Porto Príncipe parece ajudar. Ele mostra, orgulhoso, a foto da filha que trabalha em Nova York
Oportunidade-
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O Haiti está pintado no imaginário brasileiro como uma aberração, um lugar de horrores indizíveis, fadado a uma difusa maldição proveniente do vodu e onde nada prospera. A convivência da Gazeta do Povo com a população haitiana durante uma semana, porém, revela que, independentemente da instabilidade política e do caos organizacional, o país é formado por faces reais e surpreendentes que estão longe da desgraça.

Ainda que a destruição deixada pelo terremoto nunca seja completamente retirada das ruas, o lixo jamais recolhido sistematicamente e as crianças continuem com acesso parcial à escola, o haitiano tem orgulho do que é e não se considera um fracasso.

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Apesar de mais da metade da população com estudo estar fora do país, ouvimos vários depoimentos de haitianos que se recusam a deixar o país, não importa quão caótico seja. "Quero ajudar o Haiti a se desenvolver."

E esse não é um discurso proferido apenas por quem estudou, tem uma profissão ou habilidade e poderia trabalhar facilmente nos Estados Unidos mas, por algum motivo, não se deixou ser "sugado" pelo anseio por mais qualidade de vida possível no exterior.

Crianças de dez anos que moram na favela e gente com educação superior e especializações fora do país, surpreendentemente, repetem o mantra: "Quero ajudar o Haiti".

Claro que há exceções. "Todos me perguntaram se eu estava louco de voltar do Brasil", relembra um funcionário haitiano da ONG Viva Rio que trabalha em Porto Príncipe e passou cinco meses em treinamento no Rio de Janeiro.

Conheça algumas dessas histórias mais de perto.

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Serviço: Em meio a quase 200 ONGs que atuam no Haiti, algumas são citadas com frequência pela qualidade dos serviços prestados. Saiba como contribuir com algumas delas: Viva Rio – Banco do Brasil - agência 1769-8, conta corrente 411396-9. CNPJ: 00343941/0001-28. Médicos sem Fronteiras - www.msf.org.br, clique em "Seja um doador". Cruz Vermelha - www.cicr.org, clique em "português" e "fazer uma doação". É preciso selecionar o programa para o qual deseja doar.