Londres - A mudança climática mata cerca de 315 mil pessoas por ano, de fome, doenças ou desastres naturais, e o número deve subir para 500 mil até 2030. Os números catastróficos estão em um relatório divulgado ontem pelo Fórum Humanitário Global (FHG), entidade com sede em Genebra. O estudo estima que a mudança climática afetará 10% da população mundial da atualidade (6,7 bilhões).
Os prejuízos decorrentes do aquecimento global já superam os US$ 125 bilhões (R$ 250 bilhões) mais do que o fluxo da ajuda dos países ricos para os pobres e devem chegar a US$ 340 bilhões (R$ 680 bilhões) por ano até 2030, segundo o relatório.
"A mudança climática é o maior desafio humanitário emergente do nosso tempo, causando sofrimento para centenas de milhões de pessoas no mundo todo", disse o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, presidente do FHG, em nota. "Os primeiros atingidos e os mais afetados são os grupos mais pobres do mundo, embora eles pouco tenham feito para causar o problema", acrescentou.
De acordo com o estudo, os países em desenvolvimento sofrem mais de 90 por cento do ônus humano e econômico da mudança climática, embora os 50 países mais pobres respondam por menos de 1 por cento das emissões de gases do efeito estufa. Annan defendeu que a conferência climática de dezembro da ONU em Copenhague aprove um tratado eficaz, justo e compulsório para substituir o Protocolo de Kyoto. "Copenhague precisa ser o acordo internacional mais ambicioso já negociado", escreveu Annan na introdução do relatório. "A alternativa é a fome em massa, a migração em massa e a doença em massa."
O estudo alerta que o real impacto do aquecimento global deve ser muito mais grave do que o texto prevê, já que sua base são os cenários mais conservadores estabelecidos pela ONU. Novas pesquisas científicas apontam para uma mudança climática maior e mais rápida. O relatório pede especial atenção às 500 milhões de pessoas consideradas extremamente vulneráveis, por viverem em países pobres propensos a secas, inundações, tempestades, elevação do nível dos mares e desertificação. Dos 20 países mais vulneráveis, 15 ficam na África, segundo o estudo. O Sul da Ásia e pequenos países insulares também são muito afetados.
O texto diz que, para evitar o pior, seria preciso multiplicar por cem os esforços de adaptação à mudança climática nos países em desenvolvimento. Verbas internacionais destinadas a isso alcançam apenas US$ 400 milhões (R$ 800 milhões), enquanto o custo estimado da mudança climática fica em US$ 32 bilhões (R$ 64 bilhões).
"O financiamento dos países ricos para ajudar os pobres e vulneráveis a se adaptarem à mudança climática não chega nem a 1% do que é necessário", disse Barbara Stocking, executiva-chefe da ONG britânica Oxfam e integrante do conselho diretor do Fórum Humanitário Global.
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