No mesmo dia em que os presidentes Néstor Kirchner e Hugo Chávez se encontraram na Bolívia para selar um acordo de cooperação energética, importantes funcionários do governo argentino afirmaram, em Buenos Aires, que são as autoridades venezuelanas que devem explicar o que faziam representantes de seu país no mesmo avião em que viajou o empresário Guido Alejandro Antonini Wilson , que há uma semana tentou entrar na capital argentina com US$ 790 mil. O episódio provocou a mais recente crise política da gestão Kirchner - o chamado escândalo da mala - a pouco mais de dois meses das eleições presidenciais.

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Na cidade boliviana de Tarija, Kirchner e Chávez ignoraram o assunto. Mas a postura de altos assessores do presidente argentino sinalizou que a Argentina decidiu transferir a responsabilidade do escândalo ao governo chavista.

- Eles (os venezuelanos) saberão o que fazer, alguém tem que explicar e não somos nós - disse o chefe de Gabinete da Presidência, Alberto Fernández.

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Em Caracas, o governo Chávez teve duas reações. O ministro de Finanças, Rodrigo Cabezas, disse concordar com o pedido de investigação do caso, mas reiterou que Wilson não tem qualquer vínculo com o Executivo venezuelano.

- Que seja investigada a origem desses recursos, caia quem caia - disse o ministro.

O vice-presidente da Assembléia Nacional (o congresso venezuelano), Roberto Hernández, por sua vez, exigiu o afastamento dos funcionários da estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), que estavam no mesmo avião do empresário acusado de contrabando pela Justiça argentina.

- Devem ser banidos e presos - disse o congressista venezuelano.

Já o promotor Geral da República da Venezuela, Isaías Rodríguez, solicitou ao Procurador Geral da Argentina, Esteban Righi, informações oficiais sobre o incidente. Em carta, o promotor venezuelano alega precisar das informações para "determinar se o Ministério Público venezuelano deve abrir uma investigação sobre" o caso.

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Enquanto isso, em Tarija, o presidente argentino continuou se referindo a Chávez como "el amigo". Mas a amizade entre ambos não passa por seu melhor momento. O chamado "escândalo da mala" provocou o afastamento do ex-interventor do Ente Regulador de Estradas, Claudio Uberti, que estava no mesmo avião em que viajou o empresário venezuelano e representantes das estatais PDVSA e Enarsa, da Argentina.

Segundo a imprensa argentina, a saída de Uberti foi exigida pela primeira-dama e candidata à Presidência, Cristina Fernández de Kirchner, que também teria solicitado, em julho passado, a renúncia da ex-ministra da Economia, Felisa Miceli, protagonista de um escândalo desencadeado pela descoberta de uma sacola de dinheiro em seu banheiro. De acordo com fontes da Casa Rosada, tanto o presidente como a primeira-dama tiveram verdadeiros ataques de fúria ao serem informados sobre o caso da mala.

- Quem estava na Praça de Maio ouviu os gritos do presidente. A reação de Cristina foi pior - disse a fonte.

Para Kirchner, está em jogo sua imagem nos últimos meses de governo. Para Cristina, sua vitória no primeiro turno das eleições presidenciais. Na próxima terça-feira, a primeira-dama argentina lançará oficialmente sua chapa eleitoral tendo como candidato a vice-presidente o governador de Mendoza, Julio Cobos.'Enquanto a economia for bem, o casal K manterá o poder', diz sociólogo

Nesta sexta-feira, em meio a uma forte campanha da oposição para exigir que o caso seja investigado em profundidade pela Justiça, a juíza Marta Novatti se declarou incompetente para continuar atuando no processo. Tanto Uberti como os funcionários da Enarsa que estavam no mesmo jatinho que Wilson continuam excluídos do processo judicial. O ex-chefe de Uberti, o ministro do Planejamento, Julio De Vido, também não foi abalado, e participou do encontro de Kirchner com Chávez e Morales em Tarija.

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Mas, em outra frente, a Justiça decidiu apurar as denúncias sobre irregularidades na Secretaria do Meio Ambiente, comandada por Romina Picolotti, acusada de ter multiplicado as contratações em sua área.