Os bancos privados do Uruguai esperam que o ex-guerrilheiro José Mujica mantenha o modelo financeiro local se conquistar a Presidência do país, disse um dirigente do setor, alertando para riscos econômicos severos se houver qualquer modificação profunda.
A praça bancária uruguaia, tradicional refúgio de dinheiro argentino, é caracterizada pela liberdade no movimento de capitais, com forte presença estatal e um setor bancário privado fundamentalmente internacional.
Mujica disputará no fim de novembro o segundo turno da eleição presidencial com o conservador e ex-presidente Luis Alberto Lacalle. Mujica garantiu que os assuntos sobre o sistema financeiro serão discutidos entre os parceiros do Mercosul, incluindo a permanência do sigilo bancário vigente no Uruguai.
"São questões que terão de ser negociadas dentro do Mercosul: qual será o modelo financeiro que vamos adotar, se vamos manter ou não o sigilo bancário ou sigilo tributário", disse Mujica em uma entrevista à Reuters no mês passado.
Mas Julio de Brun, diretor-executivo da Associação de Bancos Privados do Uruguai (ABPU) e ex-presidente do Banco Central, disse que não acredita "que haja mudanças significativas a curto nem a longo prazo" no modelo bancário do país.
"Mujica é o candidato que parece menos firme ou menos propenso a defendê-lo (o sigilo bancário), mas certamente também não se sente inclinado a destacá-lo como tema de campanha", disse De Brun em uma recente entrevista à Reuters.
Nenhum candidato à Presidência incluiu em sua plataforma propostas de mudanças profundas no sistema bancário.
"Mas, por algumas coisas que disse no passado, não nesta campanha eleitoral, Mujica encara o assunto como uma questão de negociação. Pode ser que chegue futuramente a negociar mudanças no sigilo bancário em troca de sabe-se lá o quê. Mas ele também não tratou disso em sua campanha", acrescentou.
Mujica sabe que essas alterações "podem ter consequências complicadas para o próprio funcionamento do sistema bancário uruguaio e para o país em geral", alertou De Brun.
O Mercosul é integrado por Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai.
Dos depósitos totais do sistema bancário, quase 20 por cento pertencem a não residentes no país, segundo dados do sindicato Associação dos Bancários do Uruguai.
"No país, o sistema bancário é o terceiro ou quarto exportador, o que tem a ver com exportação de serviços financeiros. É um setor muito importante para perder vantagens competitivas simplesmente por questões caprichosas", declarou De Brun, referindo-se a Mujica.
O Uruguai é considerado um tradicional refúgio do capital que intermitentemente deixa a turbulenta praça argentina, em grande parte, por desconfiança. Os argentinos investem principalmente no mercado financeiro e imobiliário do país, que recebeu em 2008 cerca de 2,04 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros diretos.
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