Morador de Porto-de-Espanha, capital de Trinidad e Tobago, observa banner com os países das Américas e ficha técnica de cada um| Foto: Thomas Coex/AFP

Obama diz que aguarda sinal de distensão de irmãos Castro

Ciente de que a questão cubana dominará boa parte de suas conversas na Cúpula das Américas, Barack Obama passou a bola para o campo do regime castrista. Foi uma tentativa de aliviar a pressão dos líderes latino-americanos pelo fim do embargo econômico imposto pelos EUA à ilha há 47 anos.

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Histórico

As quatro reuniões anteriores da Cúpula das Américas e os encontros especiais realizados desde 1994 trataram de assuntos diversos, de economia e desenvolvimento a meio ambiente e pobreza. Veja o histórico:

1994

1ª Reunião, Miami (Estados Unidos)

Um dos principais acordos foi reunir esforços para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

1998

2ª Reunião, Santiago (Chile)

Educação foi o tema central do evento. Os líderes também definiram metas para o fortalecimento da democracia, justiça e direitos humanos, promoção, integração e livre comércio, erradicação da pobreza e da discriminação.

2001

3ª Reunião, Quebec (Canadá)

Criação da Carta Democrática Interamericana para o fortalecimento e proteção da democracia, adotada em 11 de setembro de 2001.

2005

4ª Reunião, Mar del Plata (Argentina)

Teve como foco principal temas internacionais que refletem algumas das preocupações dos países-membros, como geração de emprego, combate à pobreza e fortalecimento da Democracia.

Fonte: OEA

Tira dúvidas

Entenda como foi formada e qual a importância da Cúpula das Américas, que reúne todos os países do continente, com exceção de Cuba:

O que é?

> A Cúpula das Américas reúne, desde 1994, chefes de Estado e de governo das 34 democracias americanas para discutir temas de relevância para o continente.

O que faz?

> Para buscar a definição de políticas comuns e delinear uma visão compartilhada para a região nas áreas econômica, social, política e de desenvolvimento.

Por que existe?

> Para impulsionar a modernização e o fortalecimento da institucionalidade interamericana. A decisão de institucionalizar as Cúpulas configurou a ideia de um processo no qual se acumulam experiências e programam-se ações coletivas, multilaterais e nacionais, com vistas a encontrar respostas aos problemas que afetam as populações das Américas.

Por que Cuba não participa?

> Cuba é o único país da região que não participa da Cúpula das Américas, por não configurar um governo democrático. O país foi expulso da Organização dos Estados Americanos em 1962, três anos após a revolução que levou Fidel Castro ao poder.

Fontes: Ministério das Relações Exteriores, Organização dos Estados Americanos e Agência Estado

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Na agenda oficial estão prosperidade humana, sustentabilidade ambiental e segurança energética, além da tão debatida crise econômica. Mas o tema dominante da 5ª Cúpula das Américas, que começa hoje, em Trinidad e Tobago, deve ser mesmo Cuba, ausente do encontro por pressão dos EUA.

A ilha foi suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1962, por não ser considerada nação democrática. Mas Brasil, Colômbia e Venezuela suscitaram o debate sobre a questão cubana durante a última semana ao se mostrarem favoráveis à inclusão do país na reunião.

Até o próximo domingo, líderes das 34 nações irão sentar à mesa para debater assuntos de interesse comum do continente. Essa será a primeira vez que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, irá visitar a região. Obama anunciou que vem para ouvir – e certamente a palavra Cuba será uma constante no encontro, segundo o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim: "É impossível não falar do tema porque ele fica pairando sobre a reunião. É a agenda não escrita".

Para o ministro, a ilha tem que ser integrada ao diálogo interamericano para que ele tenha sentido. "O que é a Cúpula? Sobretudo é a possibilidade de diálogo frutífero entre os Estados Unidos e Canadá, dois países desenvolvidos do continente, e a América Latina, do outro lado. Se a América Latina não está totalmente presente é algo que tem que ser solucionado. Não creio que vai ser solucionado lá (na Cúpula). Acho importante que o presidente Obama ouça as opiniões da região."

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Primeiro passo

Especialistas apontam que a aproximação com o regime comunista foi iniciada e que há grandes chances de ela ser contínua. Na última segunda-feira, Obama derrubou restrições impostas a Cuba sobre a duração e frequência de viagens de cubano-americanos que vivem nos EUA para a ilha. Também adotou medida que permite o envio de dinheiro e de produtos como roupas e equipamento de pesca, entre outros itens. "Demos um importante primeiro passo", afirmou Obama. O ex-ditador cubano Fidel Castro, porém, rebateu que a ilha "jamais estenderá suas mãos pedindo esmolas".

O sociólogo Dimas Floriani, coordenador acadêmico da Casa Latino-americana do Paraná, aponta que o anúncio das novas medidas foi "bastante oportunista para Obama não vir de mãos vazias" à reunião. "É uma ação diplomática, inteligente, para desarmar a pressão que ele sofreria, principalmente da Bolívia e da Venezuela, para evitar que fosse cobrado diretamente", afirma.

Para Floriani, o gesto do governo norte-americano foi simbólico, já que o fim do embargo não depende só do presidente: a discussão teria que passar pelo Congresso norte-americano, pelo próprio partido democrata e pelos países da América Latina. "Provavelmente Obama é prisioneiro da situação. Ele tem certa boa vontade de mudar a situação em relação a Cuba, mas está de mãos atadas porque é jogo de xadrez complexo", analisa o sociólogo.

Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Williams Gonçalves, o momento atual é o de maior aproximação entre os dois países, pelas mudanças políticas que aconteceram em Cuba e pelo perfil de Obama. "Acredito que a mudança do relacionamento dos Estados Unidos com Cuba é um processo que está atingindo a maturidade. O comunismo já não existe mais como opção séria no nosso mundo. A União Soviética e o bloco comunista desapareceram e a China hoje é sócia dos Estados Unidos, de modo que não existe mais o perigo comunista."

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Interatividade

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