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"Guerra econômica"

Autoridades ocupam lojas de rede de supermercado na Venezuela

Fachada de unidade dos supermercados Dia a Dia: governo tenta culpar a iniciativa privada pela baixa produção industrial | JORGE SILVA / Reuters
Fachada de unidade dos supermercados Dia a Dia: governo tenta culpar a iniciativa privada pela baixa produção industrial (Foto: JORGE SILVA / Reuters)

As 36 lojas da rede privada de supermercados Dia a Dia, uma das mais conhecidas da Venezuela, amanheceram nesta terça-feira (3) sob ocupação e controle das autoridades.

A medida atende ordens anunciadas na noite anterior pelo presidente Nicolás Maduro, que diz ser vítima de uma "guerra econômica" na qual empresários supostamente conspiram para criar enormes filas no comércio e jogar a população contra o governo.

Num Dia a Dia do centro de Caracas visitado pela reportagem, funcionários de órgãos estatais monitoravam o acesso à loja e coordenavam a organização dos produtos nas gôndolas.

Havia representantes do Ministério da Alimentação, da Superintendência de Preços Justos, da Fundação Programa de Alimentos Estratégicos e da Presidência da República.

Todos eram identificados com bonés ou jalecos vermelhos típicos do governo socialista fundado em 1999 pelo então presidente Hugo Chávez, antecessor de Maduro.

A presença de soldados armados no supermercado não era novidade em si, já que o governo há meses impõe controle militar no comércio em caso de distúrbios decorrentes da irritação nas filas.

Num reflexo típico da Venezuela atual, a falta de fila na entrada da loja evidenciava a falta dos produtos mais buscados pela população. "Não tem sabão, não tem leite, não tem papel higiênico", resmungava uma senhora, indo embora após perguntar na entrada. Funcionários do governo anunciavam aos clientes a chegada, nas horas seguintes, de dois caminhões carregados de mercadoria.

Os poucos clientes no local estavam divididos sobre a ocupação do supermercado. "Isto não resolve nada. Quero ver se o governo também vai chegar para botar ordem nos mercados estatais, que são puro caos", disse o comerciante Emiliano Vargas.

Já a aposentada Yanir Sosa apoia a medida. "Será que as pessoas não enxergam que existe uma guerra midiática contra o socialismo? É evidente que este mercado escondia produtos para dar a impressão de escassez. Na Venezuela não falta nada, o problema são os empresários que querem derrubar o socialismo", diz.

O tenente-coronel Leonardo Rodriguez Garban, inspetor da Presidência da República, disse à reportagem que o governo está "servindo o povo." "A população quer abundância, quer prateleiras transbordando de produtos, e isso que vamos providenciar".

Garban disse não saber se os donos da rede Dia a Dia estavam presos, conforme havia anunciado Maduro no discurso de segunda-feira (2). O presidente também ordenou no fim de semana a detenção dos donas das farmácias privadas Farmatodo. Cinco já foram libertados. Não está claro quantos continuam presos.

Economistas dizem que o aumento do controle do Estado sobre as redes de distribuição e venda só pior o problema da escassez. O desabastecimento é causado por um misto de fatores estruturais. Um deles é a baixa produção nacional, causada em parte por repetidos ataques do governo contra o setor produtivo. Outro é a queda das importações, reflexo do declínio da arrecadação petroleira por causa da degringolada dos preços globais do barril.

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