Os aviões russos começam a abandonar o espaço aéreo sírio depois de ter dado oxigênio vital ao regime do presidente Bashar Al-Assad, que agora deve demonstrar se é capaz de manter a iniciativa, segundo os especialistas.
Assad “está em uma posição muito melhor, enquanto seus inimigos enfraqueceram”, destaca o especialista Aron Lund, que lidera o site Syria Crisis. “Mas isso não significa que a guerra tenha terminado”, completou.
Em cinco meses de bombardeios intensivos, Moscou foi capaz de “mudar o equilíbrio das forças sobre o terreno em benefício do regime”, destaca.
AFP
A Casa Branca afirmou nesta terça-feira que a Rússia está cumprindo com sua palavra até o momento, depois do inesperado anúncio de Vladimir Putin de retirar a parte essencial de seu contingente militar na Síria.
“Segundo as primeiras indicações, os russos deram continuidade a seu anúncio”, declarou Josh Earnest, porta-voz do executivo americano.
Ele, no entanto, afirmou que ainda é muito cedo para avaliar esta decisão sobre as negociações em curso em Genebra sobre a crise na Síria.
Os bombardeiros Su-24, os caças Su-24 e os tanques T-90 permitiram ao exército sírio reunir vitórias em um momento crítico, após o verão de 2015. Mas os ocidentais acusam Moscou de ter massacrados os rebeldes mais moderados em vez de se concentrar na organização Estado Islâmico (EI) e nos outros grupos jihadistas.
Para Thomas Pierret, especialista sobre a Síria da Universidade de Edimburgo, os bombardeios “frearam a seco o avanço dos rebeldes e permitiram ao regime (...) recuperar posições estratégicas em Aleppo, Latakia, Damasco e Deraa”.
O exército sírio está em uma fase de reconquista, resume Aron Lund, enquanto os grupos rebeldes perderam terreno, sobretudo após a grande ofensiva lançada pelo regime na província de Aleppo, em fevereiro.
O anúncio da retirada russa levanta, contudo, várias questões bélicas: o regime continuará com esta ofensiva? Poderá manter suas posições em torno da província de Latakia, reduto da comunidade alauita, em cujo seio surgiu a família Assad?
Ajudar o regime em Palmira
“O anúncio da retirada das tropas russas é sobretudo psicológico”, declara o geógrafo e especialista sobre a Síria Fabrice Balanche. “Poderia ser interpretado como um abandono de Bashar Al-Assad, mas ao mesmo tempo vemos como a oposição síria não se alegra. Está à espera de saber se essa retirada é real ou não”.
A Rússia manterá na Síria 800 soldados, segundo o presidente da comissão de Defesa do Conselho da Federação (câmara baixa do Parlamento), Viktor Ozerov.
Sobre as capacidades militares do regime, a Rússia não irá embora antes de entregar a seu aliado “novos tanques capazes de resistir aos mísseis (anti-tanque) TOW”, assim como aviões e helicópteros, afirma Balanche. As baterias de mísseis anti-aéreos S-400, ultramodernas, continuarão mobilizadas.
Para Aron Lund, o regime também poderá contar com a aviação russa, em particular no leste do país. Os aparatos russos o demonstraram, nesta terça-feira, mediante ataques aéreos em torno de Palmira, nas mãos do EI desde maio de 2015. Retomar Palmira “sem a aviação russa será difícil para as forças do regime”, segundo Pierret.
O EI não reagiu ao anúncio do presidente Putin, enquanto a Frente Al-Nusra, o braço sírio da Al-Qaeda, prometeu lançar uma nova ofensiva nas próximas 48 horas, após esta “derrota” da Rússia.
Nem o EI, nem a Al-Nusra acatam a trégua decretada pelos rebeldes e pelo regime. A Al-Qaeda perdeu vários setores na província de Latakia, assim como uma grande parte da província de Aleppo.
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