Protegidos pela escuridão, os táxis pararam nos limites em Subotica, pequena cidade de fronteira da Sérvia com a Hungria – contrabandistas no volante, imigrantes nos bancos de passageiro. “Vão”, os contrabandistas disseram. “A Hungria não está longe.”
Mas quando os imigrantes acabaram de atravessar, à picada, a mata fechada, encontraram seu caminho bloqueado por uma cerca de quatro metros de altura, coberta de arame farpado, com pastores alemães a rosnar e policiais húngaros armados com spray de pimenta fazendo a guarda do outro lado.
“Vão embora!”, Musa Jabar-Khel, um esguio afegão de 22 anos de idade, lembra ter ouvido os policiais gritarem. “Nós não aceitamos imigrantes aqui. Nós os odiamos.”
Isso ficou claro no último outono, quando a Hungria fez de tudo para merecer a reputação de ser a nação europeia mais hostil em relação ao fluxo sem paralelo de seres humanos fugindo em direção ao continente.
Agora que seus vizinhos estão todos fechando as próprias fronteiras, no entanto, refugiados estão voltando à Hungria. Após meses em que o número de pessoas capturadas tentando atravessar a barreira caiu para quase zero, as prisões têm aumentado sensivelmente nas últimas semanas conforme o controle é enrijecido em outros lugares. Somente em fevereiro cerca de 2,5 mil pessoas foram detidas.
O número em ascensão de pessoas que se arriscam a entrar na Hungria – apesar das duras consequências – reflete o quão desesperadoras se tornaram as condições daqueles que buscam uma via de acesso para a Europa ocidental conforme as portas foram se fechando ao longo do caminho.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, declarou na quarta-feira que a rota mais comum para os imigrantes entrarem no continente “chegou ao fim” depois que Macedônia, Sérvia, Croácia e Eslovênia anunciaram que passariam a exigir passaportes europeus ou vistos daqueles que tentassem entrar.
Essas medidas na prática encalharam 30 mil pessoas mais ao sul, na Grécia, incluindo 13 mil junto à fronteira com a Macedônia. Chuvas pesadas acrescentavam-se à desgraça na quarta-feira (9) conforme famílias tentavam se espremer em barracas ou abrigos improvisados.
Mas outros estão sem dúvida recorrendo a contrabandistas para encontrar rotas alternativas. Como o retorno de ondas de imigrantes para a Hungria mostra, cercas podem não ser muito eficazes quando todo mundo está construindo uma.
“A barreira húngara não é a solução para os problemas europeus”, disse Erno Simon, um porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados que opera em Budapeste. “Ela dificultou a entrada de pessoas por alguns meses. Mas mesmo conforme mais e mais obstáculos emergem, as pessoas continuam a vir e a tentar encontrar outros caminhos.”
Na verdade, disse Simon, a construção de cercas e outras barreiras não parará o fluxo. “Quanto mais fronteiras se fecharem”, disse Simon, “maior o preço que contrabandistas podem cobrar.”