| Foto: SAKIS MITROLIDIS/AFP

Protegidos pela escuridão, os táxis pararam nos limites em Subotica, pequena cidade de fronteira da Sérvia com a Hungria – contrabandistas no volante, imigrantes nos bancos de passageiro. “Vão”, os contrabandistas disseram. “A Hungria não está longe.”

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Detidos têm dificuldade para fazer contato com familiares

Feras Turkmani fugiu da guerra na Síria, seu país natal, no último outono, com planos de ir à Alemanha e continuar seus estudos em literatura de língua inglesa. Em vez disso, o tímido e magro jovem de 28 anos foi preso minutos após cruzar a fronteira da Hungria – um país que ele planejava atravessar o mais rápido possível. Ele passou os cinco meses seguintes em um centro de detenção para refugiados que ele compara a uma prisão.

“Não achei que as coisas fossem ser assim na Europa”, disse Turkmani, que cita como seus livros favoritos “Um Bonde Chamado Desejo” e “Coração das Trevas”. “Eu pedi livros aos guardas. Mas eles só tinham obras em húngaro.”

Turkmani disse que ele só podia falar com seus pais uma vez por semana enquanto esteve detido. Organizações de direitos humanos são procuradas diariamente por famílias ansiosas que perderam contato com parentes presos no labiríntico sistema de detenção húngaro.

Mas quando os imigrantes acabaram de atravessar, à picada, a mata fechada, encontraram seu caminho bloqueado por uma cerca de quatro metros de altura, coberta de arame farpado, com pastores alemães a rosnar e policiais húngaros armados com spray de pimenta fazendo a guarda do outro lado.

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“Vão embora!”, Musa Jabar-Khel, um esguio afegão de 22 anos de idade, lembra ter ouvido os policiais gritarem. “Nós não aceitamos imigrantes aqui. Nós os odiamos.”

Isso ficou claro no último outono, quando a Hungria fez de tudo para merecer a reputação de ser a nação europeia mais hostil em relação ao fluxo sem paralelo de seres humanos fugindo em direção ao continente.

Agora que seus vizinhos estão todos fechando as próprias fronteiras, no entanto, refugiados estão voltando à Hungria. Após meses em que o número de pessoas capturadas tentando atravessar a barreira caiu para quase zero, as prisões têm aumentado sensivelmente nas últimas semanas conforme o controle é enrijecido em outros lugares. Somente em fevereiro cerca de 2,5 mil pessoas foram detidas.

O número em ascensão de pessoas que se arriscam a entrar na Hungria – apesar das duras consequências – reflete o quão desesperadoras se tornaram as condições daqueles que buscam uma via de acesso para a Europa ocidental conforme as portas foram se fechando ao longo do caminho.

US$ 400

Foram desembolsados por Musa Jabar-Khel, um esguio afegão de 22 anos, para que um contrabandista sérvio o levasse à fronteira com a Hungria. Ele viajou com dezenas de outros em um comboio de táxis dirigidos por contrabandistas. Os contrabandistas não os alertaram a respeito da cerca proibitivamente alta – ou da forte presença de policiais do outro lado.

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O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, declarou na quarta-feira que a rota mais comum para os imigrantes entrarem no continente “chegou ao fim” depois que Macedônia, Sérvia, Croácia e Eslovênia anunciaram que passariam a exigir passaportes europeus ou vistos daqueles que tentassem entrar.

Essas medidas na prática encalharam 30 mil pessoas mais ao sul, na Grécia, incluindo 13 mil junto à fronteira com a Macedônia. Chuvas pesadas acrescentavam-se à desgraça na quarta-feira (9) conforme famílias tentavam se espremer em barracas ou abrigos improvisados.

Mas outros estão sem dúvida recorrendo a contrabandistas para encontrar rotas alternativas. Como o retorno de ondas de imigrantes para a Hungria mostra, cercas podem não ser muito eficazes quando todo mundo está construindo uma.

LOTAÇÃO MÁXIMA

Os centros de detenção da Hungria estão lotados além da capacidade. Sem mais lugares onde pôr imigrantes, o governo os libera, na prática permitindo que viajem para a Áustria através de uma fronteira que permanece aberta.

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“A barreira húngara não é a solução para os problemas europeus”, disse Erno Simon, um porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados que opera em Budapeste. “Ela dificultou a entrada de pessoas por alguns meses. Mas mesmo conforme mais e mais obstáculos emergem, as pessoas continuam a vir e a tentar encontrar outros caminhos.”

Na verdade, disse Simon, a construção de cercas e outras barreiras não parará o fluxo. “Quanto mais fronteiras se fecharem”, disse Simon, “maior o preço que contrabandistas podem cobrar.”

Líderes europeus continuam fechando portas

Fechar as portas das notórias fronteiras abertas da Europa está cada vez mais se tornando a arma escolhida por líderes políticos do continente buscando lidar com um fluxo de refugiados que alcançou a marca de um milhão no ano passado – número que, se a situação se mantiver como esteve até esta semana, deve ser superado em muito em 2016.

Quando o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban ordenou a construção de barreiras ao longo da fronteira sul do país no ano passado – justificando-as como uma defesa necessária contra uma “invasão” muçulmana – ele foi amplamente ridicularizado pelos seus colegas, líderes europeus.

Mas, desde então, as atitudes se tornaram mais rígidas em todo o continente. Em um encontro do Conselho Europeu na semana passada, bloquear o caminho dos imigrantes se tornou a política oficial. A Europa chegou a ameaçar mandar aqueles que chegarem à Grécia diretamente de volta à Turquia, em barcos.

A nova abordagem tem o propósito de eliminar uma rota que levava as pessoas rapidamente aos destinos de sua escolha na Europa ocidental. Para a Hungria, representa uma vindicação.

“Não falamos para eles construírem suas barreiras. Eles apenas usaram seu próprio bom senso”, disse o porta-voz do governo húngaro Zoltan Kovacs. “A Europa simplesmente não pode assumir a responsabilidade por todo o sofrimento humano ao redor do mundo.”