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Tegucigalpa - "As mentiras de Manuel Zelaya" é a frase proferida de forma ressonante enquanto uma foto do presidente deposto de Honduras apa­­rece na tela da tevê. Logo em se­­guida, ouve-se o clique de uma caixa registradora, flashes de ima­­gens do chapéu de caubói de Zelaya, cavalos, um jatinho particular e a Times Square.

Tal anúncio, produzido pelo governo "da verdade", informa que durante seu mandato, Zelaya comprou joias, pagou por viagens e manteve cavalos com o di­­nheiro que roubou do Banco Cen­­tral e do Tesouro de Honduras. Manchetes dos jornais hondurenhos espocam na tela na tentativa de conferir verdade às acusações.

A peça publicitária, e outras similares, são transmitidas com regularidade pela televisão e rádio hondurenhos e fomentam a complexa guerra política, que divide Honduras e ocorre em meio a afirmações de todos os tipos, não importando se elas estão fundadas na verdade. O re­­torno de Zelaya ao país na última segunda-feira aumentou o volume na guerra da mídia – guerra na qual a voz do atual governo é maior, mas também Zelaya é um combatente experiente e sagaz.

A frase "Zelaya tem um plano terrorista", outra afirmação anun­­ciada nos anúncios do governo, está sendo amplamente utilizada para acusar o presidente deposto de utilizar a embaixada brasileira, onde está refugiado, como seu comando-general. Tais acusações foram feitas após comunicados ameaçadores alertando a população que "grupos estrangeiros e aviões militares" conseguiram adentrar o território hondurenho.

A publicidade governamental é o exemplo mais extremo das alegações que se carregam o ar hondurenho em ondas de rádio e tevê.

Mesmo antes de Zelaya ter sido deposto pelo golpe de 28 de ju­­nho, as redes de televisão e rádio, controlados por poucos empresários abastados, eram contra ele. Além da estação de televisão estatal, o governo de Roberto Mi­­cheletti, presidente em exercício, possui muitos meios para desacreditar, senão caluniar, Zelaya.

Na noite de quarta-feira, por exemplo, a televisão estatal divulgou, sem atribuição, de que o Brasil havia prometido restituir Zelaya ao cargo em troca de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Zelaya, por sua vez, possui seus próprios aliados na mídia, sendo o mais forte a Rádio Globo, 24 h no ar disponibilizando os microfones para os ouvintes e repetindo sua própria série de rumores e mal-representações. Zelaya é um ouvinte que liga frequentemente para a rádio, ocasião em que faz suas próprias declarações ultrajantes: comandos israelenses com a missão de matá-lo; suspeitas de estar secretamente sendo envenenado com gás e radiação; e planos de Micheletti de causar problemas à embaixada brasileira.

"Ninguém em Honduras acredita 100% nas coisas", diz Ale­­jandro Villatoro, proprietário da Rádio Globo e legislador aliado de Zelaya. O empresário também afirma que as notícias sobre a repressão policial e militar que se tornaram um empecilho para a rádio não foram transmitidas pelas emissoras aliadas do governo.

O empresário ainda revela que, para ele, o governo está claramente com a vantagem, relembrando que ele e seus repórteres foram brevemente detidos no dia do golpe. Os anunciantes sumiram depois do golpe, o que força o empresário a manter os custos mensais da rádio, que variam de US$ 15 mil a US$ 20 mil, com dinheiro do próprio bolso.

Os dois lados alegam estar fazendo a mesma coisa: desmascarando as mentiras um do outro. As acusações continuam quando ambos os lados discutem sobre o fator que levou à crise. De acordo com uma análise recente dos assuntos legais do caso, preparada pela Biblioteca de Direito do Congresso, em Washington, tanto Zelaya quanto aqueles que o depuseram aparentam ter violado a lei.

Norma C.Gutierrez, especialista em direito internacional que preparou uma análise jurídica para os juristas norte-americanos no mês passado, criticou ambos os lados. Resu­­midamente, ela conclui que o caso contra Zelaya tem base na lei constitucional e estatutária. Sua extradição do país não.

Tradução: Thiago Ferreira

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