Um tanque pertencente às forças do ditador Muamar Kadafi explode depois de um ataque aéreo da coalizão, numa estrada entre Benghazi e Ajdabiyah| Foto: Goran Tomasevic/Reuters

Alemanha

Merkel sofre cobrança por sua abstenção

Bonn, Alemanha - O governo da chanceler alemã Angela Merkel teve de dar explicações sobre a decisão de não participar da intervenção na Líbia, após a abstenção na noite em que o Conselho de Segurança decidiu aprovar ações militares: a Alemanha teme envolvimento num conflito prolongado na região e não quer causar mais mortes de civis.

Enquanto partidos como o esquerdista Die Linke aplaudem a medida "antiguerra", outros membros da oposição descreveram a decisão de Merkel como "vergonhosa".

Para o analista Niels Annen, membro da diretoria do SPD (social-democrata, de oposição), foi errado o passo dado pela Alemanha. "Vai ficar parecendo que a Alemanha quer fugir da responsabilidade. Além disso, Merkel terá de lidar com a suspeita de que a abstenção foi motivada pelas eleições regionais", disse Annen.

Ontem, eleitores do Estado de Saxônia-Anhalt foram às urnas para escolher um novo parlamento regional. A CDU, de Merkel, continuou com a maior representação.

Segundo o semanário Der Spiegel, futuras eleições como as do estado de Baden-Württemberg, e da Renânia-Palatinado, neste mês, teriam também motivado o governo alemão a não assumir riscos políticos, uma vez que a presença de tropas alemãs no exterior é malvista pela população.

Folhapress

CARREGANDO :)
Prédio administrativo atingido por míssil da coalizão ficou destruído
Veja no mapa quais são os alvos
CARREGANDO :)

Um prédio administrativo de quatro andares integrante do complexo residencial do ditador da Líbia, Muamar Kadafi, localizado no bairro de Bab el Aziziya, foi atingido ontem por um míssil, de acordo com agências internacionais de notícias. O prédio, situado a cerca de 50 metros da tenda onde Kadafi costuma receber seus convidados importantes, ficou destruído.

Publicidade

Também no domingo, o ditador líbio havia prometido uma "longa guerra" contra a força internacional. Mais tarde, um porta-voz líbio pediu o cessar-fogo, mas foi ignorado pelo exército dos Estados Unidos.

Segundo a rede de tevê árabe Al Jazeera, as forças aliadas retomaram os ataques sobre a capital líbia na noite de ontem, enquanto as forças de Kadafi responderam com disparos de artilharia antiaérea.

A emissora divulgou ao vivo imagens dos ataques nas quais era possível ver projéteis riscando o céu de Trípoli, e afirmou que os disparos da artilharia antiaérea procediam do palácio residencial de Kadafi, embora não tenha dito quais eram os alvos dos ataques.

Militares norte-americanos informaram que 112 mísseis Tomahawk já foram disparados contra mais de 20 alvos. A televisão estatal líbia disse que 48 pessoas foram mortas e 150 ficaram feridas no bombardeio. O número foi confirmado mais tarde pela chancelaria da Rússia.

A televisão líbia afirma que muitas crianças estão entre os mortos e feridos, mas não deu maiores detalhes. O Pentágono negou que civis tenham sido atingidos e mortos. O bombardeio prosseguia na noite de ontem, com o barulho de explosões em Trípoli. Já os insurgentes, em Benghazi, informaram que 94 pessoas foram mortas nos ataques lançados na sexta-feira e no sábado por forças leais a Kadafi. Os insurgentes controlam Ben­ghazi, mas a situação é mais incerta na cidade de Misurata, onde as forças de Kadafi atacaram durante grande parte do domingo.

Publicidade

O líder líbio disse que seu país foi "traído" pelos EUA, Grã-Bretanha, França e Itália. Pelo menos 18 caças norte-americanos F-15 e F-16 participaram dos bombardeios contra Trípoli, controlada por Kadafi, e contra os arredores de Benghazi e de Misurata, respectivamente a segunda e a terceira maiores cidades do país, controladas pelos insurgentes, mas cercadas pelas forças do governante.

A Academia da Força Aérea da Líbia, nos arredores de Misurata e que estava sob o controle de Kadafi, foi um dos locais bombardeados.

Impasse

O almirante Mike Mullen, chefe de Estado Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, disse que uma zona de exclusão aérea "foi efetivamente estabelecida" sobre a Líbia. Mullen alertou, contudo, que a derrubada de Kadafi não é o objetivo previsto na resolução aprovada pelo Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso, afirma, é provável que ocorra um "impasse" e que Kadafi continue no poder.

Em Benghazi, a capital dos insurgentes e primeira cidade a cair na revolta que começou em 15 de fevereiro, os moradores disseram que os bombardeios ocidentais começaram "na última hora". Soldados e tanques de Kadafi já estavam nos subúrbios da cidade no sábado, quando começaram os bombardeios, desfechados então pelos caças Raffale e Mirage da França.

Publicidade

Moral alto

Mohammed Faraj, um ex-militar líbio de 44 anos que se juntou aos insurgentes, disse que o moral agora está bastante alto em Benghazi, após o início dos bombardeios ocidentais contra Kadafi. "Nosso espírito está bem alto. Kadafi nunca mais colocará os pés em Benghazi", disse, em um posto de controle nos arredores da cidade.

Embora tenha melhorado em Benghazi, a situação dos insurgentes parece crítica em Misurata, única cidade no oeste da Líbia ainda sob poder dos rebeldes. "Misurata é a única cidade no oeste que ainda não está sob o controle de Kadafi e ele está fazendo tudo para mudar isso", disse o ativista líbio Fathi al-Warfali, que falou a partir da Suíça. Segundo ele, forças de Kadafi bombardearam Misurata durante grande parte do domingo.

Kadafi disse que o governo líbio abriu seus arsenais para o povo e que agora 1 milhão de homens e mulheres estão armados. Ele afirmou que suas forças retomarão Benghazi. A televisão estatal disse que partidários de Kadafi estão indo para os aeroportos, onde atuarão como "escudos humanos" contra os bombardeios. "Nós prometemos a vocês uma longa guerra", disse Kadafi. O governante líbio também prometeu vingança contra os líbios que estão com a insurgência. "Nós vamos combater e atiraremos em qualquer traidor que colaborar com os americanos e com a Cruzada Cristã."

"Este não é um desfecho que os EUA ou qualquer outro país buscaram", disse o presidente norte-americano Barack Obama, em visita ao Brasil. "Não podemos ficar parados quando um tirano diz a seu povo que não haverá piedade", disse Obama, defendendo os bombardeios.

Publicidade