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Reforma

Brasil continuará sob pressão

Curitiba – Mesmo que a troca de ministros da Economia na Argentina represente uma trégua na disputa por vantagens competitivas no Mercosul, Buenos Aires deve continuar tentando impor restrições à entrada de produtos brasileiros que competem com a produção do país. A nova ministra, Felisa Miceli, vai tentar cumprir até com mais fidelidade que Roberto Lavagna as linhas da política externa do presidente Néstor Kirchener, dizem os analistas.

A saída de Lavagna não deve atrasar a adoção do que ele chamou de "cláusula de adaptação competitiva" – que engatilha salvaguardas que poderão ser disparadas sempre que houver um "surto de importação". Ele era o principal defensor do acordo, que deve ser assinado amanhã, em Puerto Iguazu (Argentina), onde o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva vai encontrar o colega argentino Néstor Kirchner para comemorar os 20 anos do Mercosul.

A Argentina cedeu em três pontos: o acordo será bilateral (tanto Brasil como Argentina podem impor salvaguardas), só poderá ser acionado quando houver invasão de produtos estrangeiros e qualquer país poderá recorrer contra as salvaguardas, no Tribunal do Mercosul.

Os principais jornais da Argentina disseram ontem que não haverá mudanças radicais na política econômica, uma vez que Lavagna saiu por questões políticas e que Felisa Miceli, que não era favorita para o cargo, tem um perfil alinhado ao governo. Num primeiro momento, ela vai enfrentar as comparações com Lavagna, reconhecido como um dos poucos membros do Gabinete que "parecia entender as preocupações dos investidores", disse o analista econômico Alberto Bernal, em Nova Iorque.

Os empresários brasileiros já anunciaram que vão continuar brigando contra a adoção das salvaguardas nos termos propostos pela Argentina. As indústrias "continuarão rechaçando a proposta de Lavagna", disse o presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa.

A política de buscar salvaguardas não era de Lavagna, mas sim de Kirchner, avalia a especialista em Mercosul Elizabeth Acciolly, professora das Faculdades Curitiba. "A proposta da adoção de uma cláusula de adaptação competitiva reflete o pensamento do governo." Diante desse impasse e da insistência da Argentina em manter tarifas diferenciadas, a previsão de que a tarifa comum do Mercosul estaria em pleno vigor em 2006 não vai se cumprir, prevê.

Para Acciolly, as intenções de Kirchner explicam a viagem que ele fez uma semana atrás à Venezuela, país candidato a membro efetivo do Mercosul. Além de acordos bilaterais, o presidente argentino estaria procurando um parceiro para ganhar força no bloco.

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