Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o acordo firmado para enriquecimento de urânio do Irã na Turquia foi uma vitória da diplomacia. Já para o físico e analista norte-americano David Albright, foi um erro. "O Irã tem um histórico de não cumprir acordos, e podemos ver isso hoje, já que eles continuarão enriquecendo urânio a 20%. [...] Acho que foi um erro. O governo brasileiro conseguiu uma pequena concessão do Irã, mas que provavelmente não vale a pena. O Brasil arrisca piorar suas relações com os Estados Unidos", disse em entrevista ao G1 o presidente do Instituto para Ciência e Segurança Internacional (ISIS, na sigla em inglês), organização de Washington que monitora a proliferação nuclear.
Segundo o texto do documento assinado em Teerã e anunciado nesta segunda (17), o Irã enviará 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para a Turquia, que devolverá o material enriquecido até um ano depois para um reator de pesquisas do Irã. Esses são quase os mesmos termos de um acordo esboçado em outubro passado e apoiado por EUA, Rússia e França, com revisão da Agência Internacional de Energia Atômica.
"Mas não é idêntico", argumenta Albright. "Há diferenças sérias. Uma delas é que, em outubro, o montante do urânio pouco enriquecido que o Irã enviaria para fora era entre 70% e 80% do total. Hoje deve ser cerca de 50%. Outra coisa é que o acordo original era um termo para tentar alavancar a confiança e estimular mais as negociações. Esse acordo é basicamente para acabar com as sanções, e nesse sentido ele é quase destrutivo para o processo de negociação."
Como resposta ao acordo, a Casa Branca informou que acredita que está havendo progresso na definição de novas sanções contra o Irã e que o acordo precisa ser submetido à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e que só depois disso ele poderá ser aceito pela comunidade internacional.
"[O acordo] definitivamente não atende às preocupações fundamentais, que são as de que o Irã parece buscar armas nucleares e se recusa a cooperar com a AIEA. É legal, mas é como uma atração secundária. E certamente não há porque parar de se discutir sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU."
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