O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer concluir seus 8 anos no poder no centro do mundo. A diplomacia brasileira faz um forte lobby para sediar em 2010 o que a ONU está chamando de "o maior projeto de paz do século XXI". A idéia do governo é a de convocar uma conferência internacional em 2010 entre os líderes mundiais para debater formas de garantir o diálogo entre diferentes religiões e culturas. O projeto foi lançado no ano passado pela Espanha e Turquia e acabou sendo adotado pela ONU, com o nome de "Aliança de Civilizações".
"Apoio o Brasil e estarei lá", declarou à Agência Estado o rei da Espanha, Juan Carlos. "O Brasil é o eixo para as Américas, para os países emergentes e mesmo para a África", afirmou o presidente do governo espanhol, José Luis Rodrigues Zapatero. Ambos estiveram nesta terça-feira (18) na sede da ONU em Genebra para a inauguração da sala denominada de 'Aliança das Civilizações', em um projeto artístico que custou US$ 30 milhões A obra, que já está sendo chama de 'Capela Sistina' do século XXI, consumiu US$ 30 milhões em uma época de crise e de um aumento no número de famintos no planeta.
O representante da ONU para o projeto 'Aliança de Civilizações', o ex-presidente de PortugalAntônio Sampaio, explicou que há uma forte inclinação da ONU para aceitar o Brasil como sede da conferência. "O Brasil tem tudo para ser o símbolo do projeto, já que tem uma população que mistura todas as etnias e religiões", afirmou Sampaio.
O projeto prevê a criação de programas nacionais para a melhor incorporação de imigrantes em todo o mundo, melhor entendimento entre as religiões, maior diálogo entre governos e a tentativa de desativar a tensão entre o Ocidente e o mundo islâmico. O Brasil já designou um embaixador para o assunto, José Augusto Lindgren Alves.
Lula, com a conferência, teria o objetivo de fechar seu mandato no centro do debate mundial, depois de ter promovido uma política externa mais próxima da África, dos países emergentes e dos países árabes. Há um mês, o chanceler Celso Amorim foi o primeiro ministro de Relações Exteriores do Brasil a visitar o Irã em mais de 20 anos.
"Novo símbolo"
Nesta segunda, a ONU abriu sua sala mais polêmica. Trata-se de um novo espaço de reuniões doado pelo governo espanhol. O encontro, porém, acabou se transformando em um comício em defesa do multilateralismo, principalmente diante da vitória do americano Barack Obama e das esperanças de que o governo dos Estados Unidos volte a dar prioridade aos temas da ONU, além de evitar medidas unilaterais que marcaram os anos de George W. Bush.
O secretário-geral da ONU, Ban Kin-moon, destacou que a nova sala representava um "novo símbolo do multilateralismo" onde "pequenos e grandes terão o mesmo peso". A obra do artista espanhol Miquel Barceló muda de cores dependendo do lugar de onde se olha e conta com estalactites gigantes.
"Essa sala é uma metáfora do mundo. Cada um tem sua perspectiva. Mas estamos todos juntos, nessa caverna", disse Zapatero, que acaba de participar da reunião do G-20 em Washington para reformar o sistema financeiro e, de quebra, reduzir a hegemonia americana.
"Os países e os povos têm perspectivas diferentes sobre os desafios que devemos afrontar", disse Ban. "Mas essa obra tem uma correlação direta com o multilateralismo, que é hoje a melhor solução para os desafios globais", afirmou. "Chegou o momento de promover um sistema que todos participem", disse Ban. Ele fez um apelo para que os governos que usarão o espaço para negociar usem no "mesmo sentido de criatividade e inovação" e que "sejamos ousados".
Mas o dia foi de polêmicas. O espaço teve seu orçamento duramente criticado. Barceló, comparado a Joan Miró, usou mais de 35 toneladas de cores, 20 assistentes, um motorista e um cozinheiro por mais de um ano. Uma parte do dinheiro veio até mesmo de um fundo para o desenvolvimento.
O Partido Popular da Espanha, que está na oposição, foi um dos que mais criticou o projeto, alegando que o dinheiro poderia ter sido usado para projetos sociais. "Quantas crianças teriam sido cuidadas com esse dinheiro", disse o deputado Gonzalo Robles.
Barceló e o ministro das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Angel Moratinos, cancelaram ainda suas entrevistas com a imprensa internacional para evitar ter de dar respostas às críticas. Madri sequer divulgou qual foi o salário do artista.