Manuel Zelaya voltou ao país e está abrigado na Embaixada brasileira. Itamaraty diz-se preocupado com integridade do presidente deposto
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O Brasil anunciou nesta terça-feira (22) que está pedindo uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas para discutir a crise em Honduras, após o retorno de surpresa ao país do presidente deposto, Manuel Zelaya, ocorrido na véspera.

Em carta aos membros do Conselho, o Brasil se disse preocupado "com a segurança do presidente Zelaya e com a segurança e integridade física das instalações da embaixada (brasileira) e funcionários".

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A carta é assinada pela embaixadora brasileira para a ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti.

Os EUA, que atualmente presidem o conselho de 15 membros, já receberam o pedido, e vão enviá-lo aos demais integrantes.

A intenção de convocar a reunião havia sido aventada pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, que está em Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Zelaya não pretende pedir asilo político

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse nesta terça-feira (22) que pediu proteção ao Brasil e não pretende pedir asilo político. Em entrevista exclusiva à TV Globo, Zelaya disse que chegou à embaixada brasileira após uma viagem de quinze horas.

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Disse também que a sua volta é uma ação de resistência para que seja possível buscar acordo político nas próximas horas. Zelaya se disse otimista, mas ressaltou que o país está sitiado. O presidente deposto informou que não há prazo para deixar a embaixada brasileira.

Diplomata

Mais cedo, o Encarregado de Negócios Francisco Catunda Rezende disse que a situação na Embaixada brasileira em Honduras acalmou um pouco em relação a como estava nesta manhã. "Na parte da manhã, a polícia lançou bombas de gás lacrimogênio aqui na rua onde se encontrava quantidade de manifestantes, e isso causou um certo alvoroço, tanto na rua quanto na embaixada," explicou.

Os funcionários da embaixada estão sendo dispensados. "A Embaixada está praticamente fechada, né? Hoje é toque de recolher o dia todo, não tem comércio, não tem bancos. A situação está ainda tensa," disse o diplomata.

"No momento nós estamos com doze funcionários, mas só quatro funcionários são o que nós chamamos do quadro, de Brasília. Os outros são funcionários contratados locais. Nós estamos mandando oito pessoas pras suas casas, a embaixada americana vai nos apoiar nisso em termos da segurança," explicou. Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu às forças do governo interino que respeitem a integridade da Embaixada do Brasil, onde o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, está abrigado. Lula está em Nova York, onde participa da Assembléia Geral da Nações Unidas.

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Segundo Catunda Rezende, cerca de 50 a 60 pessoas estão dentro da embaixada. "A idéia, inclusive do próprio presidente Zelaya, é que uma boa parte dessas pessoas deixem o recinto da embaixada, porque numa situação crítica assim é melhor ter menos gente," disse.

Luz, água e alimentação

O diplomata disse também que luz e água, que haviam faltado na segunda-feira (21), já voltaram à embaixada. "Agora, os telefones cortaram. Nós só estamos podendo utilizar os telefones celulares" disse.

Sobre a alimentação, ele disse que na segunda os manifestantes, simpatizantes do presidente Zelaya, circulavam livremente e traziam coisas. "Hoje a situação já vai ser mais difícil, como está tudo cercado, né?", disse em referência ao cerco militar à embaixada.

"Ontem ainda deu pra comprarmos umas pizzas que foram entregues à vizinha, de uma rua de trás, e solidariamente nos passou aqui perto de um muro. Também a minha mulher, que estava aqui ontem, conseguiu ir pra casa e mandou um pote de água mineral, com leite e algumas coisas, e estamos nessa situação, um pouco delicada."

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Chegada

Segundo o diplomata, uma deputada foi visitá-lo e disse que a primeira dama queria falar com ele. "Quando ela estava aqui na minha sala então ela me disse: olha, o presidente também está lá embaixo e gostaria de entrar, pedir proteção ao governo brasileiro."

Ele então telefonou para Brasília e obteve a autorização para receber o presidente deposto. "O presidente entrou, com a senhora, se instalaram no gabinete do embaixador com a mala e até aí com um filho, umas duas ou três pessoas. A situação estava calma, né? Só que quando se espalhou que ele realmente tinha chegado e estava na embaixada do Brasil, aí começaram a chegar manifestantes," lembra Catunda Rezende.

Segundo o diplomata, Zelaya está calmo para a situação. "Ontem chegou a dormir cinco horas. O pessoal dele toruxe os colchões, ele dormiu aqui na sala do embaixador, e aí já deu entrevistas, recebeu telefonemas. Ele não parece, assim, muito abatido não. Eu percebo que ele está ciente da dificuldade realmente dele regrassar ao poder".