O governo brasileiro rejeitou as críticas de Israel a um acordo fechado hoje entre Irã, Turquia e Brasil sobre o programa nuclear de Teerã. Segundo esse acordo, o Irã enviará 1,2 mil quilos de urânio pouco enriquecido à Turquia e, em troca, receberá 120 quilos de combustível nuclear para seu reator em Teerã. Hoje um alto funcionário israelense acusou o Irã de ter "manipulado" os governos de Turquia e Brasil.
"Israel tem o direito de dizer o que quiser, mas é a primeira vez que o Irã concordou em enviar seu combustível nuclear para um terceiro país", disse à AFP um assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil ajudou a alinhar as posições, como um facilitador do diálogo", disse o assessor, ainda em Teerã. O acordo para troca de combustível foi firmado após conversas entre o presidente Lula, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.
O Irã pode sofrer uma quarta rodada de sanções no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) por conta de seu programa nuclear. Diplomatas ocidentais disseram hoje que o acordo não resolve totalmente o impasse em torno do tema.
A Turquia e o Brasil são membros não permanentes do CS e têm resistido aos esforços liderados pelos Estados Unidos para aprovar mais sanções ao Irã. Esse processo pode ser usado tanto para fins pacíficos como para a produção de uma bomba. Teerã alega ter apenas fins pacíficos.
Manipulação
Um alto funcionário de Israel afirmou hoje que o Irã "manipulou" o Brasil e a Turquia em relação a um acordo para enviar seu urânio pouco enriquecido ao território turco, em troca de combustível para seu reator em Teerã. "Os iranianos já usaram um truque desse tipo no passado, fingindo aceitar um passo assim para reduzir as tensões e diminuir o risco de sanções internacionais mais duras, e então se recusando a prosseguir até o fim", afirmou a fonte, que pediu anonimato.
O funcionário israelense disse que o acordo iria "complicar radicalmente" os esforços das potências envolvendo a questão. "Será muito mais difícil para os Estados Unidos ou para os europeus rejeitarem este acordo, porque nós não estaremos lidando apenas com o Irã, que é muito mais fácil de lidar, mas com potências emergentes, como o Brasil e a Turquia, com quem as relações são muito sensíveis." As relações entre Israel e Turquia pioraram após os israelenses lançarem uma ofensiva de 22 dias na Faixa de Gaza, em dezembro de 2008.
A rádio pública israelense, citando altos funcionários locais, afirmou que a iniciativa em três partes "iria agravar o problema iraniano, ao complicar os esforços dos EUA e dos europeus para conseguir aprovar sanções". As informações são da Dow Jones.