O Brasil quer valorizar suas credenciais diplomáticas promovendo a reconciliação no Oriente Médio, ao receber na semana que vem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, apenas duas semanas depois de uma visita do presidente de Israel, Shimon Peres.
Para Ahmadinejad, as visitas a Brasil, Venezuela e Bolívia representam uma chance de ampliar as relações do Irã com uma região onde já conta com um sólido aliado, o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
O Brasil, que adota uma posição muito mais conciliadora em relação ao programa nuclear iraniano do que outros governos ocidentais, diz que o diálogo com Teerã propicia mais chances de avanços a respeito da questão nuclear e da paz no Oriente Médio do que o isolamento do país.
O diálogo Brasil-Irã conta com o apoio do governo norte-americano, já que, segundo autoridades brasileiras, o presidente Barack Obama pediu em março ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que conversasse com Ahmadinejad.
"Acreditamos que é muito mais importante manter um diálogo com o Irã do que simplesmente dizer não, deixá-los estigmatizados e isolados", disse Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, na semana passada a jornalistas no Rio. "Obama disse que um diálogo entre o Irã e o Brasil é importante."
Obama tem dito que o tempo está se esgotando para que a diplomacia resolva o impasse em torno do programa nuclear iraniano, que potências ocidentais suspeitam estar voltado para a produção de armas atômicas. Teerã afirma que seu objetivo é apenas gerar eletricidade para fins civis.
Preparando-se para assumir no ano que vem uma vaga temporária no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil está ávido para demonstrar sua seriedade como ator no cenário internacional, e pleiteia um papel mais ativo na promoção do diálogo no Oriente Médio.
Depois de receber Peres recentemente, Lula terá no fim de semana a visita do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Em março, será a vez de Lula ir a Israel e aos territórios palestinos.
Até hoje, o Brasil tem historicamente pouco envolvimento com a questão do Oriente Médio, e analistas duvidam de que o país possa conseguir resolver o impasse com o Irã ou destravar o processo de paz israelo-palestino.
"Acho que as chances de Lula desempenhar um papel em juntar EUA e Irã são negligenciáveis. Acho que, se essa é a meta, (o governo brasileiro) está se posicionando para o fracasso", disse Michael Shifter, vice-presidente para políticas da entidade Diálogo Interamericano, de Washington.
"Acho que isso é para reforçar a sensação de que eles (o Brasil) são uma grande potência e podem aproveitar uma ampla gama de contatos em todo o espectro ideológico", acrescentou.