De posse de uma cadeira não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas desde 1º de janeiro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará um custoso desafio nos próximos meses: evitar que o organismo baixe sanções contra o Irã, como punição pela sua insistência em enriquecer urânio em níveis considerados perigosos. Na última terça-feira, em Ancara, o chanceler Celso Amorim reiterou a uma plateia de 200 embaixadores da Turquia a visão brasileira de que o isolamento de Teerã precisa ser evitado e de que a via da negociação não deve ser suspensa.
Sexta-feira, o Brasil fará sua estreia efetiva no Conselho de Segurança, durante uma reunião para a avaliação das operações das Nações Unidas na Costa do Marfim. O governo brasileiro terá assento nesse órgão máximo de decisão mundial até 31 de dezembro de 2011, sendo que a metade desse período se dará sob o comando do sucessor do presidente Lula. Essa estreia, entretanto, se dá em um momento delicado.
Os Estados Unidos se empenham para obter o apoio dos membros do Conselho de Segurança à imposição de sanções sobre interesses da Guarda Revolucionária, instituição militar que sustenta o regime dos aiatolás, que comanda os projetos nucleares secretos e que teria vinculações com organizações terroristas. A Rússia e a China, antes menos propensas a aprovar sanções contra o Irã, deram uma mostra de que podem reverter suas posições.
No final de novembro, ambos os países votaram em favor da condenação de Teerã pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), devido à descoberta de uma usina clandestina em Qom. Se o Brasil pôde se abster nessa votação, sob a desculpa de que acabara de receber Ahmadinejad, agora se verá em meio a um pesado jogo político, no qual toda posição traz um custo, como reconhecem diplomatas experientes no tema.
Convidado para o encontro de Ancara pelo chanceler turco, Ahmet Davutuglu, Amorim defendeu ontem que o diálogo e a persuasão são sempre preferíveis ao emprego da força e às sanções, ao referir-se à questão do Irã. Em um café da manhã, Amorim e Davutuglu se comprometeram a aproximar posições sobre os principais temas da agenda internacional. Assim como o Brasil, a Turquia também dispõe de uma cadeira não permanente no Conselho neste ano.
A defesa do Brasil de que o Irã tem direito de enriquecer urânio foi reiterada publicamente pelo presidente Lula durante a visita a Brasília de seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em novembro passado. Essa posição expõe a preocupação brasileira de que, eventualmente, seu programa nuclear possa sofrer restrições da comunidade internacional, apesar das garantias constitucionais de sua finalidade pacífica - algo inexistente, no caso do Irã.