A administradora brasileira Benilda Caixeta não se comunica com a família, em Patos de Minas (oeste de Minas Gerais), desde sete horas antes da passagem do furacão Katrina por Nova Orleans, na Louisiana, onde mora há mais de 20 anos. Por telefone, Benilda, que é praticamente tetraplégica - tem apenas alguns movimentos nas mãos e nos pés - e se locomove com um cadeira de rodas motorizada, contou que ficaria em casa até que a tormenta passasse. Nove dias depois, a angústia dos familiares a milhares de quilômetros de distância não pára de crescer diante das imagens de inundação e destruição que chegam pela TV.
- Desde o momento em que ela ligou sabendo o que estava para acontecer na cidade tem sido uma grande tortura para nós. São nove dias quase sem comer e sem dormir. É uma angústia tremenda, a gente está vivendo um pesadelo - contou Maria José Caixeta, irmã de Benilda.
Benilda mora sozinha em um apartamento no andar térreo totalmente adaptado para sua deficiência física. Em agosto de 1977, após tratamento frustrado no Brasil, ela foi a Washington para tentar se curar do que Maria José chama de "paralisia no crescimento dos nervos do corpo", uma doença que estava afetando todos os movimentos da irmã. Já em Nova Orleans, depois de uma cirurgia mal-sucedida, o quadro da mineira que tem cidadania americana evoluiu à paraplegia e, após algum tempo, à tetraplegia.
- Quando o furacão se aproximava, eu disse para ela buscar ajuda, mas a Benilda falou que não havia mais tempo para sair e que ninguém mais poderia ajudá-la. Ela disse 'Não consigo sair, vou ficar em casa, não tem outro jeito'. A previsão dela era se comunicar com a gente em até três dias, mas até agora não temos nenhum sinal. Ela só tinha água suficiente para esse três dias - relatou Maria José.
A família entrou em contato com o Itamaraty, que informou que enviaria uma brasileira que mora em Nova Orleans e que sobreviveu à tragédia ao local onde Benilda mora (7001 Bundy Road, apt. C17).
Há cerca de dois meses, Benilda escreveu uma carta para a família alertando para o perigo de um furacão atingir o Sul dos EUA, onde está localizada Nova Orleans. Apesar das limitações de movimento e dos riscos, Benilda não mudou sua rotina nos dias que antecederam o furacão. A administradora é voluntária em um hospital da cidade.
- Ela é muito batalhadora e tem uma cabeça muito boa. Quero pensar que ela ainda está viva e que não se comunica porque não está em condições. O sonho dela era voltar para o Brasil curada. Umas das últimas coisas que ela disse pelo telefone foi para pouparmos nossa mãe da história e que sabia do risco que correria ficando em casa - afirmou Maria José.
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