Brasileiro que morreu em tragédia aérea pode ser enterrado na Espanha

O corpo do paraense Ronaldo Gomes da Silva, de 27 anos, um dos 153 mortos no acidente com um avião da companhia aérea espanhola Spanair, nesta quarta-feira (21), no aeroporto de Madri, pode não voltar para o Brasil. A família do office-boy, que morava em Londres há cerca de quatro anos, cogita enterrá-lo na Espanha, ao lado da esposa, a espanhola Yanina Celisdibowsky, que também morreu na tragédia.

- Esse era o desejo dele - contou ao Globo Online, por telefone, o irmão de Ronaldo, Rodinaldo, de 29 anos, que viajou à Espanha para fazer o reconhecimento do corpo. - Às vésperas de se casar, ele me confidenciou que amava tanto a Yanina que já não imaginava a sua vida sem ela. E disse que, se algum dia "algo de ruim" acontecesse com ela, ele preferia "ir junto".

Irmão, melhor amigo e muitas vezes "pai" de Ronaldo, que era dois anos mais novo, Rondinaldo pretende respeitar a sua vontade.

- Por mim, eles não ficam separados - revelou, emocionado.

A decisão, no entanto, ainda não está tomada. Primeiro, Rondinaldo precisa aguardar a liberação o corpo, o que pode levar alguns dias, já que a identificação terá que ser feita através da análise de DNA.

- Eu nem cheguei a ver o meu irmão. Fui orientado por psicólogos a aguardar a investigação do DNA porque o corpo estava irreconhecível.

Outra questão que preocupa Rondinaldo, é a reação dos seus pais à possibilidade de o filho ser enterrado em outro país.

- Ainda não falei com eles sobre isso. Não sei se vão concordar. Até porque, duvido que tenham forças para entrar num avião agora, depois de tudo o que aconteceu - disse, lembrando que os pais moram em Ourilândia, no Pará.

Ronaldo e Yanina se casaram em São Paulo, no dia 3 de julho, e estavam na Espanha em lua-de-mel. O casal, que morava em Londres, viajava para as Ilhas Canárias para oficializar a união entre os parentes da noiva, que são espanhóis.

- Os pais dela estavam organizando uma cerimônia para eles lá.

Nesta quinta-feira (21), a Spanair admitiu que houve um superaquecimento no avião, mas defendeu a decisão da tripulação de levantar vôo após reparos. Uma comissão formada por sete pessoas ligadas à Secretaria Geral de Transporte espanhola está investigando o desastre. Em meio a dúvidas sobre o que pode ter causado a tragédia, a família de Ronaldo disse que ainda não pensou se entrará na Justiça contra a empresa aérea. Segundo Rosana Gomes da Silva, de 24 anos, outra irmã de Ronaldo, a mãe do office-boy ainda está em choque.

- A gente vê isso acontecer com outras pessoas, mas nunca imagina que isso possa acontecer com a gente - disse ela ap Globo Online. - Ele era um rapaz muito bom, muito sonhador - disse.

Além do brasileiro, a imprensa espanhola afirma que havia pelo menos outros 13 estrangeiros no avião: um italiano, cinco alemães, dois franceses, um búlgaro, um gambiano, um indonésio, um mauritano e um turco. Cerca de 40 funcionários forenses trabalham na identificação dos corpos das vítimas, que deve levar de dois a três dias porque muitos estão completamente carbonizados. Os 19 sobreviventes do acidente continuam hospitalizados, quatro deles em estado muito grave, seis em estado grave, um levemente ferido e oito em observação. Entre eles há três crianças. Duas delas perguntam insistentemente pelos pais.

Colombiana e marido sobrevivem: 'renasci e ainda tenho muito a fazer' Até agora, cerca de 50 corpos foram identificados. As repostas definitivas sobre as causas da tragédia só devem ser conhecidas em semanas ou até meses, segundo o Ministério do Desenvolvimento, responsável por administrar a aviação comercial.

- As informações já estão com a comissão de investigação e não podemos divulgá-los. Só posso confirmar que o piloto, no momento em que ia decolar, fez a volta e pediu uma revisão - disse a ministra de Desenvolvimento, Magdalena Alvarez, acrescentando que o mais importante agora é analisar as caixas-pretas.

O presidente do governo espanhol, Jose Luis Rodriguez Zapatero, que suspendeu suas férias e prometeu na quarta fazer "tudo para ajudar as famílias das vítimas", participará de uma reunião com titulares de vários ministérios para analisar os trabalhos de investigação dos corpos, de atendimento aos feridos e seus parentes e de investigação.

De acordo com especialistas, quando houve a explosão, o avião já devia ter ultrapassado a velocidade depois da qual não se pode frear. A única opção seria tentar decolar com apenas um motor, embora haja perda de potência. O problema, neste caso, são as conseqüências da explosão, que pode, por exemplo, atingir reservatórios de combustível.