A experiência do pernambucano Ebenézer Paz com voluntariado só poderia gerar no pastor e conselheiro familiar uma reação frente à crise migratória europeia : ir até uma das portas de entrada do continente para ajudar os refugiados recém-chegados. Radicado na Suécia há dez anos, ele esteve na ilha grega de Lesbos entre 7 e 14 de outubro. Lá, trabalhou no resgate de barcos com migrantes, principalmente sírios e afegãos.
Acompanhado do amigo sul-africano Erik Greyvenstein, Ebenézer viu cenas de desespero nos resgates que chegaram a salvar cerca de 700 pessoas em apenas um dia.
“Havia muita gente em choque, sem reação. Por isso, entrávamos diversas vezes na água para tirar as pessoas dos barcos. Onde cabem 15, estavam de 50 a 70. Eles empilhavam as crianças no chão do barco, uma em cima da outra, com água no rosto. Horrível”, contou.
Além de falar quatro idiomas, a bagagem de Ebenézer como funcionário da imigração sueca durante a crise dos Bálcãs e a do Iraque, entre 2001 e 2003, e seu trabalho como voluntário em um Mercy Ship (navio hospitalar) em 1993, na Guiana Inglesa, ajudou no contato com os migrantes. Em Lesbos, ele e Erik se registraram em quatro instituições e trabalharam mais diretamente com a norueguesa Drop in the Ocean.
Com dinheiro próprio, eles bancaram a estada em Lesbos. Doações da igreja que o pastor mantém em Recife ajudaram no combustível. Assim, a dupla se encarregou de patrulhar a costa durante a noite, principalmente. O trabalho consistia em procurar barcos próximos às praias, identificá-los, acionar as redes voluntárias e as guardas costeiras gregas e norueguesas, que dispõem de equipes na região, e partir para o resgate.
“A gente tenta iluminar a praia para que os refugiados não se choquem com as rochas. Para que não tenham hipotermia, precisam de roupas secas. Então, entram em ação os voluntários que transportam as doações do mundo todo: roupas, sapatos, cobertores”, explicou.
Ebenézer disse que as instituições instalam estações nas praias para fornecer primeiros-socorros e alimentos imediatamente. Depois, os refugiados são transferidos para os campos de transição, onde aguardam transferência para a maior cidade da ilha, Mitilene. Somente lá há um centro de registro.
Apesar das situações intensas e delicadas, para o brasileiro foi fácil lidar com os migrantes – tanto que pretende voltar.
“Acho que se fez uma imagem muito feia deles. É um pessoal muito agradecido. É triste porque eles põem a mão no bolso e querem dar para você a comida que trouxeram. “
O sorriso de uma menina síria com síndrome de Down tocou o brasileiro em meio à confusão da chegada do barco.
“Imediatamente após o resgate, ela começou a sorrir e contagiou a todos, que antes estavam muito tensos. No resgate dela tivemos que entrar rápido na água, pois as pessoas estavam pulando desesperadas nas rochas e corriam o risco de quebrar a perna”, lembrou.