Faz pouco menos de dois anos que o fotógrafo amador Carlos Fairbairn, de 33 anos, resolveu mirar suas lentes para o céu, mas seu trabalho já recebe o devido reconhecimento. Em três ocasiões, suas fotografias estamparam a seção “fotos do dia” da página da Nasa na internet, e, na semana passada, Fairbairn venceu o concurso “Astronomy Photographer of the Year“, organizado pelo Observatório Real de Greenwich, a mais importante premiação internacional de fotografia astronômica.
“Durante a minha infância, sempre via o meu pai lendo sobre astronomia. Há algum tempo, comprei uma máquina fotográfica, algumas lentes e comecei a fazer fotos diurnas. No fim de 2014, essas duas sementes se encontraram”, conta Fairbairn, administrador por formação. “Fui para o meio do mato e mirei a câmera para o céu, e para a minha surpresa, consegui ver detalhes da Via Láctea que não conseguia a olho nu. Isso me despertou a caminhar nesse hobby”.
O concurso teve mais de 4.500 inscritos de 80 países. O grande vencedor foi o chinês Yu Jun, com uma montagem que mostra o eclipse solar, captado no dia 9 de março em Sulawesi, na Indonésia. Fairbairn venceu a categoria “Sir Patrick Moore Best Newcamer“, para novatos na astrofotografia. Ao todo, 31 trabalhos foram premiados, e serão publicados em livro e expostos até julho do ano que vem no Observatório Real de Greenwich, em Londres.
“Também tem uma premiação em dinheiro, mas é simbólica. O que me deixa mais ansioso é receber o livro, com todos os vencedores e outras fotografias que tiveram destaque, mas não foram premiadas. É um livro muito rico, que eu já adorava. Tenho duas edições passadas que me inspiraram muito”, diz Fairbairn.
O trabalho de Fairbairn mostra a Grande Nuvem de Magalhães, a terceira galáxia mais próxima da Via Láctea. Ela foi batizada em homenagem ao navegador português Fernão de Magalhães, que a descreveu em sua expedição de 1519, a primeira a circunavegar o globo. Por sua localização, esta galáxia só é observada nos céus do Hemisfério Sul, como uma nuvem clara com largura 20 vezes maior que a lua cheia.
“ Um recém-chegado nos servindo com uma imagem digna de um mestre experiente, capturando a mística e o fascínio da Grande Nuvem de Magalhães”, comentou Jon Culshaw, um dos jurados do concurso. “Eu posso ouvir o Sir Patrick na minha imaginação dizendo: ‘Sim, é uma imagem simplesmente magnífica’”.
Por morar no Rio de Janeiro, Fairbairn precisa viajar para regiões distantes do centro urbano para conseguir fotografar o cosmo sem interferência da poluição luminosa. Dentro do estado, ele recomenda uma visita ao Parque Nacional de Itatiaia e a região de Nova Friburgo. A imagem premiada foi capturada em junho do ano passado durante o 26º Encontro Nacional Observacional, promovido pelo Clube de Astronomia de Brasília em uma fazenda na cidade de Luziânia, em Goiás.
Em seus trabalhos, Fairbairn não utiliza telescópios, apenas câmeras fotográficas convencionais. No caso, uma Canon EOS 5D Mark III com lente de 200 milímetros e tempo de exposição total de uma hora e meia. Para manter o equipamento mirando para o mesmo ponto no céu, o fotógrafo usa um tripé especial que acompanha o movimento de rotação do planeta.
“No Brasil, as pessoas têm pouco interesse pela Astronomia. Espero que com o meu trabalho eu possa atrair a atenção dos mais jovens”, diz Fairbairn. “As grandes cidades prejudicam a apreciação do céu. Cada vez menos gente tem a oportunidade de ver o esplendor da Via Láctea”.
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