Santa Cruz de la Sierra Não foi somente a Petrobrás que enxergou na Bolívia uma grande oportunidade de expansão e de novos negócios. Nos últimos 15 anos, o vizinho mais pobre da América do Sul vem, literalmente, sendo invadido por milhares de brasileiros. Eles são agricultores, comerciantes, profissionais liberais e estudantes pessoas ou famílias inteiras que partem em uma verdadeira aventura em solo boliviano, muitas vezes mais por necessidade do que por opção.
Neste momento, a crise política e comercial entre Brasil e Bolívia, desencadeada a partir do processo de nacionalização dos recursos naturais, proposto pelo governo andino, expõe essa comunidade e revela que essa relação vai muito além do petróleo e da política. Não é nenhum exagero dizer que existe um pedaço do Brasil dentro da Bolívia.
Pelos números oficiais do Serviço Nacional de Imigração (SNI), são perto de 6 mil brasileiros no país. Mas a própria Embaixada do Brasil em La Paz, capital boliviana, admite que essa comunidade é bem maior. O setor consular estima que entre legais e ilegais são aproximadamente 15 mil, a maioria vivendo nos principais departamentos (estados), como La Paz, Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, além de Sucre, capital histórica e legislativa do país.
Olga Lídia Espinoza, chefe do SNI em Santa Cruz, explica que "muitas pessoas que vivem na Bolívia entraram como turistas e depois não regularizaram sua siuação". Ela lembra, ainda, que existem muitos brasileiros vivendo nas regiões de fronteira, assim como deve haver bolivianos no Brasil, sem nenhuma documentação oficial da imigração, ou seja, clandestinos. Para o SNI, isso impede qualquer estatística mais precisa sobre os imigrantes.
Contudo, o fato é que não se consegue percorrer duas quadras em Santa Cruz sem encontrar ou ouvir um brasileiro falando ao telefone ou tomando um café, em especial próximo da Praça 24 de Setembro, a praça central, palco de protestos políticos e manifestações culturais. Eles já estão integrados à sociedade boliviana e são facilmente identificados. Basta pedir por alguma referência do Brasil que qualquer taxista, nativo ou estrangeiro, irá indicar um restaurante, uma loja ou alguma entidade que tenha uma pessoa do Brasil como associado ou proprietário.
O próprio prefeito do Departamento de Santa Cruz (governador de estado no Brasil), Rubén Costas, exalta a importância dos brasileiros. Para o chefe do Executivo, eles são aliados do governo no desenvolvimento da Bolívia. "Tenho a melhor impressão desses empresários, que apóiam e têm participado ativamente de nossa sociedade." Na avaliação do prefeito, são pessoas "abertas, alegres e muito otimistas", entre os quais ele diz ter muitos amigos.
Ao destacar que, entre outras contribuições, o brasileiro trouxe tecnologia e aumentou a produtividade agrícola em seu departamento, Rubén Costas afirma que "está muito contente com esse tipo de imigração" e que fará tudo o que estiver dentro da lei e ao seu alcance para garantir a presença de empresários e agricultores do Brasil dentro da Bolívia.
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