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A Síria realmente não sabe o que a atingiu – como o maior estado policial da região pôde perder o controle de sua população, armada somente com câmeras de celulares e acesso ao Facebook e ao YouTube.

Pode-se entender isso a partir de um único exemplo: vários dissidentes sírios se reuniram e criaram a SNN – Shaam News Network – um site que está publicando as fotos de celulares e posts do Twitter originários de protestos em toda a Síria. Muitas redes de tevê globais, todas banidas na Síria, estão recebendo filmagens de hora em hora da SNN. Minha aposta é que a SNN não tenha custado mais que alguns milhares de dólares para começar, e agora é o site preferido para se obter vídeos da revolta na Síria. Rápido assim – um regime que controlava toda a mídia agora não o pode mais.

Não vejo como o presidente da Síria, Bashar Assad, pode permanecer, mas por causa de algo escondido a um palmo do nariz: muitos, muitos sírios perderam o medo. Só na sexta-feira, o regime matou pelo menos 26 pessoas em protestos pelo país.

Essa é uma luta até a morte agora – e é o maior espetáculo na terra, por um motivo muito simples: a Líbia implode, a Tunísia implode, o Egito implode, o Iêmen implode, Bahrein implode – a Síria explode. A emergência da democracia em todos esses outros países árabes mudaria seus governos e teria implicações regionais de longo prazo. Mas a democracia ou o colapso na Síria mudaria todo o Oriente Médio da noite para o dia.

Um colapso ou democratização do regime sírio teria ramificações enormes para o Líbano, um país que a Síria controla desde a metade dos anos 1970; para Israel, que conta com a Síria para manter a paz nas Colinas de Golã desde 1967; para o Irã, uma vez que a Síria é a plataforma principal do Irã para a exportação de revoluções no mundo árabe; para a milícia xiita libanesa Hezbollah, que consegue foguetes do Irã pela Síria; para a Turquia, que faz fronteira com a Síria e compartilha muitas de suas comunidades étnicas, em especial curdos, alauitas e sunitas; para o Iraque, que sofreu com a Síria tendo servido como um condutor para atentados suicidas jihadistas; e para o Hamas, cujo líder está assentado em Damasco.

Porque a Síria é uma nação tão crucial, há uma tendência entre os seus vizinhos de esperar que o regime de Assad possa ser enfraquecido – e, portanto, moderado – mas não derrubado. Poucos ousam confiar no povo sírio para construir uma ordem social estável a partir das cinzas da ditadura de Assad. Aqueles medos podem ser apropriados, mas nenhum de nós tem chance de votar. Só os sírios, e eles estão votando com os pés e as vidas na oportunidade de viverem como cidadãos, com direitos iguais e deveres, não como peões para um regime mafioso.

Mais do que em qualquer outro país árabe hoje, os protestantes pró-democracia na Síria sabem que, quando eles saírem para exigirem liberdade pacificamente, eles estarão diante de um regime que não hesitará em fuzilá-los. Sua bravura em si já foi capaz de surpreender os libaneses.

A questão de um milhão de dólares acerca da rebelião síria e todas as rebeliões árabes, é: será que o povo pode realmente se unir e compor um contrato social para viverem juntos como cidadãos iguais – não como sectos rivais – uma vez removido o punho de ferro do regime?

A resposta não é clara, mas, quando se vê tantas pessoas desafiando esses regimes de forma pacífica, como na Síria, isso lhe diz que algo muito profundo deseja subir à tona.

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