Eleitores de Buenos Aires elegem neste domingo (5) o novo chefe de governo da capital argentina com uma novidade: o voto eletrônico.
Buenos Aires tem pouco mais de 2,5 milhões de eleitores, cerca de 8% do eleitorado nacional -é o quarto maior colégio eleitoral do país.
Urnas eletrônicas, você confia nelas?
Você sabe o que França, Inglaterra e Alemanha têm em comum? Nenhum desses países adota urnas eletrônicas. Nos Estados Unidos, nos estados em que urnas eletrônicas são aceitas, elas necessariamente precisam imprimir o voto – isto é, diferem brutalmente das brasileiras. Você sabe o que Equador, Venezuela e Brasil têm em comum? Todos adotam o mesmo mo
Leia a matéria completaA novidade foi recebida com certa ansiedade pelas pessoas, sobretudo as mais velhas. A capital tem 16% da população acima de 65 anos -no Brasil, esse percentual não passa de 7,6%.
Na fila de votação, em uma seção eleitoral no bairro da Recoleta, Dora Uriona, 76, estava ansiosa para ver como seria usar a máquina pela primeira vez.
Nos dias que antecederam o pleito, o governo de Buenos Aires espalhou máquinas de teste pela cidade e os meios de comunicação difundiram informações ensinando a usar a urna. Dora experimentou uma delas.
Ágil e econômico
Neste domingo (5), ela levou poucos minutos para votar. “Esse sistema é mais ágil e mais econômico, não se gasta tanto papel quanto antes”, opinou seu irmão, Rubén Uriona, 72.
“Foi tudo bem, poderiam replicar na eleição nacional”, disse Dora.
Para Osvaldo Billa, 79, que votou na mesma escola, “foi mais fácil do que operar o caixa eletrônico do banco”.
O voto eletrônico na Argentina é diferente do sistema brasileiro. O voto em papel permanece e a contagem é feita a partir das cédulas depositadas em cada urna. A máquina serve apenas como uma impressora.
Seleção
Nesta eleição na capital, os portenhos selecionaram políticos para o mandato de chefe de governo, legislador e membros da junta comunitária (espécie de subprefeitura, que administra os bairros da cidade).
Antes, cada partido imprimia sua própria boleta e colocava à disposição do eleitor nas seções eleitorais.
As pessoas então entravam em uma sala fechada, chamada de quarto escuro, onde escolhiam a boleta que queriam, colocavam dentro de um envelope e depositavam na urna. Também havia a possibilidade de cortar a boleta, ou seja, escolher um candidato a prefeito de um partido e o legislador de outro, por exemplo. Mas para isso seriam necessárias duas boletas de papel.
Em eleições passadas, políticos argentinos denunciaram que boletas de seus partidos haviam sumido de algumas seções eleitorais, prejudicando sua votação. Com o sistema eletrônico, desaparece esse problema. Também deixam de existir os quartos escuros. O local de votação fica parecido com o brasileiro, no mesmo ambiente da mesa dos fiscais.
“A mudança é inconveniente em um primeiro momento, mas depois é boa, acredito que dará mais segurança à eleição”, acredita Hebe Macchione, 78.
Críticas
A novidade, contudo, foi criticada pela oposição, que questiona o investimento em máquinas se o voto segue em papel. Fiscais da frente ECO, que reúne políticos do partido radical e socialistas na cidade em prol da candidatura de Martín Lousteau, queixam-se de que não houve tempo suficiente para que se preparassem.
“Não tivemos muita capacitação. Apenas na última sexta (3) enviaram uma máquina para que treinássemos entre 60 e 80 fiscais. E, por fim, a máquina não funcionou. Usamos apenas um vídeo demonstrativo”, queixou-se a fiscal-geral do ECO na Recoleta, Lídia Leal.
Gabriel Cardozo, fiscal do ECO em uma escola do bairro, disse à Folha que houve um caso de uma eleitora que denunciou que os candidatos que havia selecionado na tela apareceram trocados no papel, após a impressão.
“Invalidamos aquela cédula e lhe demos outra para votar”, disse ele. “O problema é que a maioria das pessoas não checa se a impressão confere com a tela”.
Falhas
Quatro urnas, das 18 no total, falharam na escola onde Gabriel trabalha. Só havia uma de reposição. Os técnicos da empresa terceirizada para o serviço só chegaram, disse ele, por volta de 13h.
“Os eleitores tinham que ir a outras mesas, onde havia máquinas que funcionavam, para imprimir o voto. E em seguida voltar para depositar na urna correspondente. Tinham que ter enviado mais máquinas sobressalentes para essa escola”, disse ele.
Aos 83 anos, Maria Suzana Frigoni, disse que só precisou de ajuda na hora de votar porque a máquina não imprimia. “É uma evolução, vamos torcer para que a contagem seja segura também. A verdade é que não sabemos se foram colocados dados antes nas máquinas”.
O governo de Buenos Aires, responsável pela implantação do sistema, afirma que esse tipo de fraude não é possível porque as máquinas não armazenam informação.
Apuração
Com a novidade, a apuração também será diferente nesta eleição em Buenos Aires. A contagem é feita a partir de cada voto de papel depositado na urna. Dessa vez, em vez de somar com calculadora, os votos serão “lidos” com uma espécie de leitora de código de barras e o resultado seguirá para a Justiça eleitoral por internet através de uma máquina semelhante à de votação, mas que é usada exclusivamente para contar e enviar os dados.
Até então, cada presidente de mesa preparava uma planilha e a enviava por fax. O governo de Buenos Aires acredita que isso deverá dar agilidade à divulgação do resultado, que deve ser finalizado por volta de 23h.
Na Argentina, somente a cidade de Buenos Aires e a província de Salta adotam o sistema de votação eletrônico. A eleição para presidente, que terá primárias em agosto e votação definitiva em outubro, será com voto exclusivamente em papel.
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