O presidente George W. Bush afirmou nesta quinta-feira (7) que os Estados Unidos retirarão suas tropas do Iraque até o início de 2008 se as condições assim o permitirem. Também enfatizou que é preciso se mostrar "flexível e realista" para determinar o número de soldados que permanecerão no país.
É a primeira vez que Bush fala de planos práticos para uma possível retirada das tropas do Iraque.
A afirmação ocorre um dia após a divulgação de um relatório, elaborado por uma comissão bipartidária, que propôs mudanças na atuação dos Estados Unidos no Iraque -um duro golpe contra a administração Bush.
Entre as mais de 70 recomendações está a retirada das tropas norte-americanas das frentes de combate no país árabe (cerca de 144 mil soldados) em no máximo 15 meses.
"Queremos nossas tropas de combate de volta rapidamente. Queremos que os iraquianos assumam o combate", disse Bush. Mas acrescentou que os Estados Unidos têm de ser "flexíveis e realistas", ressaltando que são os comandantes no Iraque que precisam tomar decisões sobre as tropas.
"Como disse o relatório, não sei as palavras exatas, mas era algo como 'dependendo das condições'. Acho que faz sentido", completou Bush.
Bush, que até pouco tempo atrás se negava a rever a política norte-americana no Iraque e não cogitava a retirada das tropas, considerou a avaliação do grupo "muito dura".
A mudança de postura de Bush ficou clara também em um encontro realizado hoje em Washington com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. O presidente dos EUA disse que o Iraque precisa de uma nova abordagem. "Acredito que precisamos de uma nova abordagem", disse o norte-americano durante uma entrevista coletiva ao lado de Blair, seu principal aliado no Iraque.
No encontro com Blair, o presidente americano disse que estaria disposto a seguir outra das recomendações do relatório: incluir a Síria e o Irã nas conversas para o fim da violência no Iraque. Mas somente se os dois países deixarem de apoiar grupos terroristas.
O presidente dos Estados Unidos não é obrigado a seguir as recomendações da comissão bipartidária, formada tanto por democratas quanto por republicanos, pois o grupo de estudos tem caráter apenas consultivo. Mas após a derrota de Bush nas eleições legislativas deste ano ele tem sinalizado que pode acatar parte das sugestões.
O relatório
O informe, chamado nos Estados Unidos de "Relatório Baker", por ter sido liderado pelo ex-secretário de estado norte-americano James A. Baker, é o mais importante relatório independente sobre a guerra no Iraque já publicado desde o início do conflito, em março de 2003. Desde então, quase 3.000 soldados americanos e mais de 150 mil civis iraquianos já morreram. Uma revista britânica, no entanto, chegou a falar em mais de 600 mil civis mortos.
"A situação no país é grave, e está se deteriorando. A violência está aumentando, e os ataques às forças dos Estados Unidos continuam", disse Hamilton, em entrevista coletiva no Capitólio. Entre as recomendações mais importantes citadas no relatório está proposta de uma "retirada gradual das tropas de combate americanas até 2008".
"No primeiro trimestre de 2008, sempre que possível e quando não ocorrerem situações inesperadas no que diz respeito à segurança do Iraque, todas as forças de combate que não forem necessárias para tarefas de proteção poderiam ser retiradas do local", diz o documento.
O relatório recomenda também que os Estados Unidos, Síria e Irã iniciem um diálogo "construtivo", dentro de uma intensificação dos esforços diplomáticos para resolver o problema da violência no Iraque. Este empenho deve incluir também uma nova proposta para resolver o conflito árabe-israelense.
"Nossas recomendações mais importantes pedem novos e intensificados esforços políticos e diplomáticos no Iraque e na região, e uma mudança na missão básica das forças americanas no país que permita aos Estados Unidos começar a retirar suas forças de combate do Iraque de maneira responsável", explica o documento.
O relatório foi impresso em livro e já está à venda nas livrarias norte-americanas.
Sob pressão
O relatório, um dos textos mais esperados nos últimos tempos em Washington, pressiona o governo a tomar medidas o mais rápido possível.
Se a deterioração da situação no Iraque continuar, adverte o estudo, o país "caminhará rumo a um caos que poderia precipitar o desmoronamento do governo iraquiano e uma catástrofe humanitária".
Neste caso, a comissão explica que "os países vizinhos poderiam intervir" e, como resultado, "a posição dos Estados Unidos no mundo poderia se deteriorar. Os americanos poderiam ficar mais divididos".
Após a reunião com os dez membros da comissão na manhã desta quarta-feira na Casa Branca, Bush considerou que a avaliação do grupo "é muito dura".
"Avaliaremos com igual seriedade cada uma das propostas e agiremos de maneira adequada", disse o presidente, acrescentando que "o país está cansado das posturas puramente políticas".
Apesar de Bush ter prometido estudar atentamente cada proposta, o presidente já havia deixado claro anteriormente sua rejeição a estabelecer diálogo com a Síria ou o Irã, o que, segundo ele, só serviria para premiar o "mau comportamento" de países rebeldes.
E esse é justamente um dos pontos sugeridos pelo relatório bipartidário _que os Estados Unidos voltem à mesa de conversas com a Síria e o Irã.
"Decisão em semanas"
Atualmente, os Estados Unidos têm 144 mil soldados no Iraque, a maior parte em missões de vigilância e combate.
O relatório do grupo foi encomendado simultaneamente a outra avaliação requisitada por Bush aos departamentos de seu governo e coordenada pelo Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Assim que tiver em mãos as conclusões dos dois estudos, Bush decidirá em questão de "semanas, não meses", segundo a Casa Branca, quais correções fará em sua estratégia na Guerra do Iraque.
Até agora, mais de 2.900 soldados americanos morreram no Iraque desde o começo da guerra, em março de 2003.