Atualizado em 06/11/2005 às 20h16
A viagem de menos de 24 horas do presidente dos EUA, George W. Bush, ao Brasil terminou na tarde deste domingo com o líder de Washington eleogiando "papel de liderança que o Brasil exerce no mundo", principalmente no combate à Aids na África e em missões de paz em várias regiões. Bush fez uma palestra no hotel em que estava hospedado em Brasília. O chefe da Casa Branca seguiu para o Panamá.
- O Brasil tem que saber que os EUA são um parceiro forte - disse o presidente americano para convidados, entre empresários, ministros e outras autoridades.
Em seu discurso de cerca de dez minutos, Bush destacou a consolidação da democracia nas Américas, após uma era de "ditaduras e guerras civis", e a luta por justiça social:
- Os povos das Américas têm direito à democracia. A Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) exige que esta terra seja um continente de liberdade(...) É a única região do mundo que impõe a defesa da democracia.
O chefe da Casa Branca também dedicou uma parte da palestra para falar sobre economia e, principalmente, sobre os movimentos para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Bush disse concordar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os subsídios agrícolas são um empecilho para a consolidação do livre comércio e afirmou que levará uma proposta à reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro, em Hong Kong.
- Gostei muito da conversa que tive com o Lula para ver se podemos transformar isso (a Alca) em realidade(...) em prol de um comércio livre e justo no nosso Hemisfério - comentou o líder americano.
Para finalizar, Bush destacou parcerias na área de segurança com o México, "contra o tráfico de armamentos e seres humanos", contra o narcotráfico na Colômbia e contra a lavagem de dinheiro na região que, segundo ele, poderia beneficiar grupos terroristas.
- Temos desafios imensos a superar, como tivemos no passado com o colonialismo e o comunismo - disse o presidente.
Churrasco na granja do Torto
Antes da palestra, Bush esteve na Granja do Torto, onde participou de um churrasco oferecido por Lula. O principal destaque do pronunciamento do presidente americano na Granja do Torto, ao lado de Lula, foi sobre a questão das relações comerciais entre os dois países. Citando conversas que teve com o próprio presidente Lula, que teria lhe sinalizado que os países precisam ceder para que as negociações avancem, Bush respondeu:
- A melhor maneira de contribuir para a redução da pobreza será através dos avanços nas negociações sobre as relações comerciais da rodada de Doha. Ouvi seu recado. Os Estados Unidos estão dispostos a reduzir os subsídios agrícolas se recebermos o mesmo tratamento dos países europeus. Se baixarmos os subsídios, eu gostaria de dizer aos produtores em meu país que eles também terão acesso ao mercado europeu. Assumimos um compromisso forte em termos de avançar nas negociações da rodada de Doha. É de interessse do Brasil que a OMC avance. Este é um grande país com grandes recursos e mão-de-obra disposta a trabalhar.
Em seguida Bush acrescentou que neste encontro, os dois países aproveitaram a oportunidade para renovar o compromisso de trabalharem juntos para a erradicação da pobreza, gerando oportunidades para o comércio externo.
- Há oportunidade para avançarmos na área de comércio externo. Precisamos trabalhar juntos para concorrer com países como Índia e China. É de nosso interesse trabalharmos juntos a agenda da Alca.
O presidente americano ressaltou a importância de se reforçar as relações comerciais entre os dois países:
- O bom comércio externo beneficia ambos os lados e deve ser eqüitativo e justo. Ambos temos a preocupação de gerar empregos e manter a inflação em níveis baixos. O livre e justo comércio é a forma de ajudar os cidadãos brasileiros. Podemos ter justo comércio sem perder a soberania e sem penalizar as pequenas empresas.
Bush lamenta
George Bush reforçou, pela primeira vez neste domingo, a intenção de levar adiante as negociações em torno da Alca - fracassadas em Mar Del Plata - para a próxima reunião da Organização Mundial do Comércio em Hong Kong, dia 13 de dezembro. Para Bush, os subsídios agrícolas são a chave para o sucesso da rodada de negociações que está por vir.
Ao agradecer o convite feito para visitar o Brasil, Bush lamentou não poder estender a visita:
- Lamento não visitar o resto para ver as belezas do país, que fica numa região espetacular. Agradeço o convite para a pesca. Mas fica para depois que nós deixarmos a Presidência, senão teremos muita gente atrás de nós.
Bush relembrou o primeiro encontro que teve com Lula na Casa Branca, antes de o presidente brasileiro assumir o posto, e disse que ficou impressionado com os compromissos assumidos por ele, destacando o programa Fome Zero:
- Pareceu-me sincero e refletia grande sensibilidade para com o povo. Somos dois países que temos que lidar com nossas diversidades de forma a fortalecer nossas nações. Ambos herdamos valores comuns o que possibilita que as pessoas que vêm de origens diferentes possam viver em harmonia. Somos as duas maiores democracias do mundo e temos a obrigação de trabalharmos juntos para promover a paz e a felicidade das pessoas.
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