A Grã-Bretanha começa a decidir nesta quinta-feira (6), em uma eleição imprevisível, quem será seu chefe de governo a partir da sexta-feira. Separados por diferenças ideológicas tênues, os líderes do Partido Conservador, David Cameron, e do Partido Trabalhista, Gordon Brown, protagonizam a eleição mais disputada da história contemporânea do país. Em jogo está a definição de a quem caberá tirar a economia britânica da estagnação, do déficit público e das dívidas geradas pela crise do sistema financeiro.
A poucas horas da abertura das urnas, às 7h de sexta-feira - 3h em Brasília -, nem eleitores, nem institutos de pesquisa, nem cientistas políticos sabem dizer com precisão quem tem mais chances de assumir 10, Downing Street, a sede do poder britânico. De acordo com sondagem publicada ontem pelo instituto YouGov, Cameron tem 35% da preferência, Brown vem em segundo, com 30%, seguido de Nick Clegg, do Partido Liberal-Democrata, com 24% das intenções de voto.
Já o instituto ComRes apontou o conservador com 37% e o trabalhista com 29%. Essa margem de diferença, que varia de 5% a 8% de acordo com a metodologia da pesquisa, faz toda a diferença. Ela apontará não apenas a maior bancada no Parlamento, mas também se Cameron tem chance de obter uma maioria absoluta, o que lhe daria condições de declarar vitória e anunciar a formação de um governo de centro-direita.
Já Brown tenta impedir que seu opositor eleja mais de 325 deputados, condição que lhe permitiria acordar na sexta-feira como premiê. A indefinição também era potencializada pela indecisão do eleitorado. ComRes apurou que cerca de 40% dos eleitores - a maioria de liberal-democratas - ainda pode mudar seu voto.
Em busca dos indecisos, Cameron, Brown e Clegg intensificaram o contato com eleitores nas circunscrições em que a disputa está em aberto. Cameron apelou por mudanças, atacando de forma direta a administração atual. "Nós temos só algumas horas para dar ao nosso país um novo governo e para salvá-lo de mais cinco anos de Gordon Brown".
Já o atual premiê exortou o eleitorado a esquecer seus erros pessoais e escolher entre duas visões de política. "Sob o governo Conservador, você está por sua conta. Sob o Trabalhista, nós estamos do seu lado", frisou. Clegg insistiu em sua condição de alternativa: "Se David ou Gordon assumirem 10, Downing Street, nada, nada mesmo vai realmente mudar".
Certo mesmo é que, seja quem for o vencedor, a Grã-Bretanha não mudará de forma radical na sexta-feira, dizem cientistas políticos. Ainda que adversários históricos, conservadores e trabalhistas aproximaram suas plataformas ao longo das últimas duas décadas. Na campanha atual, a preocupação comum é rombo nas contas do governo, que, segundo a União Europeia, pode atingir 12% em 2010 - superando a Grécia.
"As principais divergências dizem respeito ao momento, à forma e à velocidade com que iniciarão o corte de despesas do governo, para reduzir o déficit público", diz Stephen Fischer, doutor em Ciências Políticas da Universidade de Oxford. Para Ralf Martin, doutor do Centro de Performance Econômica da London School of Economics (LSE), a diferença se limita a como Cameron e Brown lidarão com a crise. "Nos anos 80, os trabalhistas defendiam a maior participação do Estado da economia, e os conservadores, a privatização", explica "A divisão ideológica nítida não existe mais. Hoje todos defendem o modelo econômico liberal, baseado no sistema financeiro."
Voto útil
Apesar dos apelos em contrário feitos nos últimos dias por Gordon Brown, David Cameron e Nick Clegg, o voto útil pode ser um dos fatores de desequilíbrio nas eleições de quinta-feira. No interior da Grã-Bretanha, candidatos trabalhistas sem chances de vitória em suas circunscrições estariam pedindo votos aos opositores do Partido Liberal-Democrata, um meio de concentrar forças e impedir a formação de uma maioria conservadora no Parlamento.
A tendência foi diagnosticada pela mídia britânica pelo menos nos dois últimos dias de campanha. A hipótese de que trabalhistas possam estar em campanha "anti-conservadores" no interior do país foi reforçada na noite de terça-feira, quando Brown discursou sobre o tema usando um tom ambíguo. O atual premiê disse defender o "voto trabalhista", mas deixou entender que apoiaria o "voto tático". "Por favor, certifique-se que você vota de forma que possamos assegurar a retomada do crescimento, a construção de serviços públicos e de postos de trabalho para o futuro deste país", afirmou.
A ideia do "voto tático" foi largamente reprovada pelos principais líderes políticos do país, como o ex-primeiro-ministro trabalhista Tony Blair. Beneficiado, em tese, pela iniciativa, Nick Clegg recusou o apoio oportunista "Vote com seu coração."
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