Pesquisas eleitorais apontam empate técnico entre os candidatos, As votações vão acontecer no dia 6 de maio| Foto: Reuters

Divididos pela disputa eleitoral, pela economia e pela questão da imigração, os líderes dos três principais partidos que concorrem nas eleições gerais britânicas podem concordar com uma coisa: qualquer um pode vencer esta corrida.

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O candidato conservador David Cameron, logo após o que foi considerado por observadores o melhor debate na televisão até o momento, disse à rádio BBC que a eleição nacional da semana que vem está "longe de ser vencida".

Nick Clegg, que sobe nas pesquisas mais do que a maioria dos observadores políticos poderiam esperar, disse que a campanha está "amplamente aberta".

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Até mesmo o sempre otimista ex-primeiro-ministro Tony Blair, que participou da campanha nesta sexta-feira em apoio a seus sucessor, Gordon Brown, disse apenas que o Partido Trabalhista "tem toda a chance de ganhar".

Pesquisa da ICM/Populus, publicada pelo jornal The Guardian nesta sexta-feira, mostrou a distância entre cada partido dentro das margens de erro.

Estatisticamente, a eleição envolvendo Cameron, Clegg e Brown tornou-se um empate.

Esses dados são decepcionantes para Cameron, cujo Partido Conservador em determinado ponto conseguiu uma liderança de dois dígitos sobre os Trabalhistas, que têm comandado o país desde que Blair foi eleito em 1997.

Mas os Trabalhistas conseguiram reduzir a vantagem de Cameron na medida em que a data da eleição se aproxima e os dois partidos foram surpreendidos por Clegg, cujo estilo direto e afável durante o primeiro debate televisivo no estilo norte-americano no dia 15 de abril elevou o apoio do opositor Liberal Democrata

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Andrew Gamble, chefe do departamento de política da Universidade de Cambridge, disse que Cameron "deveria vencer esta eleição com folga". "O fato de não estarem é profundamente atordoante para os Conservadores", disse ele. "Clegg está destruindo o partido para eles".

Observadores políticos disseram que Cameron foi bem no debate de quinta-feira, assistido por cerca de 8 milhões de pessoas, embora Clegg também tenha tido bom desempenho. Brown ficou num distante terceiro lugar, numa performance que o especialista político John Curtice descreveu como excessivamente defensiva.

Mas nenhum dos candidatos detalhou seus programa de recuperação econômica num país que enfrenta sérios problemas econômicos e um dos maiores déficits da Europa, fatos que vão exigir pesados cortes nos gastos públicos após a eleição.

Os Trabalhistas tiveram pouca sorte nesta sexta-feira, quando um carro bateu num ponto de ônibus nas proximidades de onde o primeiro-ministro e outros integrantes de seu gabinete lançavam um novo pôster de campanha.

Ninguém ficou ferido, mas os programas de notícias da noite mostraram o vice de Brown, Peter Mandelson, tendo seu discurso rapidamente interrompido pelo som de uma freada seguida pelo barulho de uma batida. Perguntado por um jornalista, Mandelson negou que o incidente fosse uma metáfora da campanha eleitoral trabalhista.

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E as notícias pioraram quando, na noite desta sexta-feira, o jornal The Guardian anunciou seu apoio ao Liberais Democratas nesta eleição.

Num editorial de 2.100 palavras, o jornal tradicionalmente trabalhista, disse apoiar Clegg e sua reforma eleitoral, algo que poderia criar "um Parlamento que é realmente um espelho do pluralismo da nação".

Curtice disse que a decisão do Guardia é "simplesmente uma indicação do quanto mal os Trabalhistas estão".

Dirigindo-se a uma multidão no norte da Inglaterra, Clegg disse que "certamente não iria descansar um milésimo de segundo, um minuto, até que esta campanha acabe, até o momento em que as pessoas decidam como votar".

"Há muitas pessoas que não decidiram como vão votar", disse ele. "Eu acho que muitas pessoas agora veem esta campanha como aberta Trata-se de uma das campanhas mais interessantes em muito tempo e na qual podemos fazer alguma coisa diferente".

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Em sua entrevista, nesta sexta-feira, Cameron disse que seu partido terá de "lutar por cada voto, casa assento (no Parlamento)".

Brown, também, prometeu lutar até o último momento. "O período dos debates terminou, o período das decisões começou", disse ele a seus partidários. "Vamos continuar a lutar pelo futuro de nosso país até o último segundo desta campanha eleitoral".

Gamble deu a entender que esses segundos finais podem ser cruciais. "Nesta última semana, muitos eleitores tomarão suas decisões", disse ele.

Perda de rating

As indefinições do cenário político no Reino Unido trazem um clima de instabilidade para a economia britânica Se a previsão de um parlamento sem maioria absoluta se confirmar após as eleições de 6 de maio, aumentam os riscos de o país perder o rating AAA, segundo analistas consultados pela Agência Estado.

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O déficit fiscal do Reino Unido, de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB), está entre os mais elevados da União Europeia, que vive hoje uma crise de dívida soberana. Segundo a agência de estatísticas Eurostat, o país só fica atrás da Grécia (com déficit de 13,6%) e da Irlanda (14,3%).

Os três principais candidatos a primeiro-ministro reconhecem que haverá a necessidade de cortes de gastos públicos nos próximos anos. Agências de rating já alertaram que o atual orçamento não é suficiente para manter a nota máxima do país e esperam as medidas a serem tomadas após as eleições.

No entanto, o Reino Unido presencia a disputa eleitoral mais indefinida em décadas. Existe a possibilidade de nenhum partido conseguir maioria absoluta no parlamento, algo raro no país. Isso cria a necessidade de negociação e coalizão entre os partidos para a formação do novo governo, o que deve levar dias

Levantamento da London School of Economics (LSE) com base em diversas pesquisas eleitorais mostra que o Partido Conservador, liderado por David Cameron, possui 34% da preferência dos eleitores, seguido pelo Liberal Democrata (28%), de Nick Clegg, e pelo Trabalhista (27%), do primeiro-ministro Gordon Brown.

Mas, o sistema eleitoral britânico é bastante desproporcional e permite que o partido com maior número de votos não necessariamente tenha a maior quantidade de assentos no parlamento. A formação do próximo governo pode depender da coalizão com Clegg, que saiu do anonimato e conquistou repentina popularidade após o primeiro debate na TV, em 15 de abril.

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Independentemente do resultado das eleições, hoje imprevisível, analistas acreditam que haverá dificuldades para a aprovação de cortes no orçamento.

"Acredito que um parlamento sem maioria aumenta a possibilidade de rebaixamento do rating", afirmou o estrategista-chefe de câmbio do ING, Chris Turner. Para ele, a formação de um novo governo pode demorar uns dez dias. A partir daí, a coalizão terá começar do zero e concordar nos cortes de gastos a serem feitos, o que leva tempo.

Nos últimos dias, a Standard and Poor´s foi acusada de seguir a turbulência dos mercados, rebaixando a Grécia e Portugal à medida que a pressão dos investidores sobre os ativos desses países crescia. "O mesmo pode ser aplicado ao Reino Unido se os mercados perderem a confiança após as eleições", disse Turner.

O rebaixamento faria os administradores de recursos tirarem até 30 bilhões de libras (US$ 45 bilhões) do mercado de títulos soberanos do Reino Unido, estima o ING.

Segundo o BNP Paribas, a chance de o país perder a nota AAA é de 50% no caso de um parlamento dividido. Na avaliação de Alan Clarke, economista do banco, mesmo se os conservadores conseguirem maioria no parlamento, será por diferença pequena. "Isso pode restringir a habilidade do partido para aprovar um aperto fiscal radical e impopular", disse.

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Ainda é cedo para saber qual será o impacto do bom desempenho de Cameron no último debate pela TV, ontem à noite, um dia após a gafe cometida por Gordon Brown - que chamou uma eleitora de "fanática" sem lembrar que ainda estava com o microfone ligado.

Para Boris Schlosser, da corretora GFT, não está claro se os conservadores conseguirão avançar nas pesquisas o suficiente para garantir maioria. E, mesmo nesse caso, qualquer dado econômico desfavorável pode "reavivar a condição fiscal extremamente frágil do país e desencadear o tipo de turbulência que estamos vendo no mercado de crédito europeu".

Nesse cenário, há riscos para o comportamento da libra. O ING avalia que a moeda britânica está "sobre gelo fino" e estima queda de 3% a 5% nos seis próximos meses.