Em um desafio direto aos protestos internacionais contra as charges retratando o profeta Maomé na imprensa ocidental, o jornalista jordaniano Jihad Momani escreveu: "O que traz mais preconceito contra o Islã: essas caricaturas ou imagens de um seqüestrador cortando a garganta de sua vítima em frente a uma câmera, ou um terrorista suicida que se explode durante uma cerimônia de casamento?"
No Iêmen, um editorial assinado por Muhammad al-Assadi condenou as charges, mas também lamentou o modo como os muçulmanos reagiram a elas. "Muçulmanos tiveram a oportunidade de educar o mundo sobre os méritos do profeta Maomé e a paz pregada pela religião que adotamos", escreveu. "Muçulmanos sabem mais perder do que aproveitar oportunidades", emendou.
Para reforçar seus pontos de vista, os dois editores publicaram seleções dos polêmicos desenhos. Por causa disto, os jornalistas foram detidos e ameaçados de prisão.
Momani e Assadi estão no grupo de 11 jornalistas em cinco países que enfrentam processo por terem publicado algumas das charges. O caso deles ilustra o outro lado do conflito - o interno, entre muçulmanos - que foi definido em linhas gerais como um choque entre o Islã e o Ocidente.
A polêmica despertada pelas charges, primeiramente publicadas em um jornal dinamarquês, ampliou o racha no Oriente Médio entre aqueles que querem engajar suas comunidades em um diálogo direto e introspectivo e os que focam em inimigos externos.
O caso já ressaltou o conflito político envolvendo movimentos islâmicos emergentes, como o palestino Hamas e o egípcio Irmandade Muçulmana, e governos árabes incertos sobre como detê-los.
"Isso se tornou um jogo entre dois lados, os extremistas e o governo", disse Tawakkul Karman, chefe da organização Mulheres Jornalistas sem Restrições, em Sana, no Iêmen. "Eles fizeram isso de modo que você fique sob grande tempestade e tenha que enfrentar 1,5 bilhão de muçulmanos", acrescentou.
As emoções acaloradas, a violência nos protestos e as prisões lançaram uma espécie de frente fria sobre as pessoas, na maioria escritores, que querem expressar idéias contrárias ao sentimento comum. Isso tem ameaçado aqueles que acreditam que grupos islâmicos manipularam a opinião pública a fim de mostrar sua força e que governos usaram as charges para estabelecer suas credenciais religiosas.
"Eu continuo ouvido: 'Por que os liberais estão calados?'", disse Said al-Ashmawy, juiz egípcio e autor de livros sobre a Islã político. "Como podemos escrever? Quem vai me proteger? Quem vai publicar para mim em primeiro lugar? Com a islamização da sociedade, a lista de tabus está aumentando diariamente. Você não deve escrever sobre religião. Você não deve escrever sobre política e mulheres. Então o que resta?", indagou.