Sem rodeios para comentar as eleições no Brasil, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, declarou ontem que seu "coração" está com a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. A declaração, no hotel em que se hospedou, antecedeu o constrangimento no Itamaraty, horas depois, ao ser indagado sobre quando deixará o governo venezuelano.
Chávez está na Presidência da Venezuela há 11 anos e, depois de muito tergiversar, disse que não pretende deixar o cargo tão já. Alegou que o rei da Espanha tem um cargo "vitalício" e seu primeiro-ministro pode se reeleger indefinidamente.
O rei Juan Carlos de Bourbon foi justamente o chefe de Estado a cortar abruptamente as críticas de Chávez ao governo espanhol, na Cúpula Ibero-Americana do Chile, em 2007. "Por que você não se cala?", cobrou Juan Carlos de Chávez na ocasião.
"Não tenho previsto isso (deixar o poder). Não tenho sucessor à vista no momento nem um processo de sucessão", afirmou Chávez ontem, quando lembrado de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com cerca de 80% de aprovação popular, vai deixar o governo ao fim deste ano.
Com um exemplar de bolso da Constituição venezuelana na mão, o presidente da Venezuela alegou que a Carta prevê eleição presidencial em seu país apenas para dezembro de 2012 e sua legenda, o Partido Socialista Único de Venezuela (PSUV), ainda não escolheu o candidato.
Crítica aos tucanos
A atuação de palanque do presidente venezuelano foi retomada no Itamaraty. Logo depois de disparar elogios à gestão de Lula, acusou o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) de ter se subordinado aos Estados Unidos.
Chávez insistiu que, na Cúpula das Américas de Quebec, em 2000, fora o único a levantar o braço contra as propostas americanas. Naquele encontro, contudo, Fernando Henrique havia imposto condições duras para a continuidade das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que Chávez e Lula se incumbiram de enterrar em 2005. "Olhei de lado para o presidente do Brasil, que nem se mexeu. Não podia entender como o Brasil se subordinava às pressões dos EUA", acusou o presidente da Venezuela.