Rodrigo Londoño resolveu que o “caminho democrático estava fechado” com a morte de Salvador Allende, e então se alistou nas Farc. Quarenta anos depois, o agora chefe máximo da guerrilha colombiana, conhecido como Timochenko, é o guerrilheiro que levou à paz o grupo insurgente mais antigo do continente.
Veja imagens do momento histórico para a Colômbia
Londoño, também conhecido por seu outro nome de guerra Timoleón Jiménez, líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, comunista) há quase quatro anos, guiou os insurgentes nas negociações iniciadas com o governo colombiano em Havana em novembro de 2012.
“É o homem que entrará na História por levar as Farc a um processo de paz”, disse à AFP Ariel Ávila, analista da Fundação Paz e Reconciliação, especializada no conflito armado colombiano.
Para Ávila, Timochenko, “um dos tipos mais queridos nas Farc” por sua relação próxima com o falecido líder histórico desta guerrilha, Manuel Marulanda (Tirofijo), sempre será recordado por seu papel chave no caminho de paz da Colômbia.
Nascido em 22 de janeiro de 1959 em Calarcá (Quindió), em plena zona cafeeira da Colômbia e muito próxima do povoado natal de Tirofijo, Timochenko foi um dos guerrilheiros de maior confiança do fundador das Farc, e quem anunciou publicamente sua morte, causada por um infarto em 26 de março de 2008.
Mas foi em 4 de novembro de 2011, quando o sucessor de Tirofijo, Alfonso Cano, foi morto em uma operação militar, que Timochenko tomou as rédeas do grupo rebelde, que surgiu por uma insurreição camponesa em 1964.
Aos 52 anos, com um perfil de estratégia militar e reputação como chefe da insurgência, tornava-se assim em 2011 o terceiro líder das Farc, atualmente com cerca de 7 mil combatentes em suas filas, segundo números oficiais.
Carreira meteórica
De berço marxista, Timochenko militou na Juventude Comunista dos anos 1970 e cursou medicina na União Soviética e em Cuba, embora nunca tenha se formado. Em sua volta à Colômbia, em 1979, uniu-se às Farc e em apenas dois anos se tornou comandante de frente. Em 1982, com 23 anos, integrou o Estado-Maior da guerrilha, de 30 membros, e aos 26 passou a formar seu Secretariado, a cúpula rebelde composta por sete comandantes.
No início de 2012, quando tinha algumas semanas no comando das Farc, escreveu ao presidente Santos para iniciar “uma hipotética mesa de negociações, de frente para o país” para retomar o último fracassado processo de paz com o governo de Andrés Pastrana, entre 1998 e 2002.
Dias depois, se comprometeu a parar com o sequestro de civis com objetivos de extorsão econômica, contemplando uma das mais insistentes demandas do chefe de Estado. Santos reconheceu então que a guerrilha havia dado um passo para o estabelecimento de um diálogo, embora tenha o classificado como insuficiente.
Membro mais antigo do Secretariado, este homem corpulento, de barba grisalha e que normalmente tem um lenço no pescoço como fazia Tirofijo, vive recluso há anos nas “montanhas da Colômbia”, desde onde já assinou vários comunicados com relação ao processo de paz publicados no site das Farc dedicado às negociações.
O chefe máximo das Farc é acusado de delitos como homicídio qualificado, terrorismo, sequestro, extorsão, roubo e rebelião, entre outros. Além disso, foi condenado à revelia em vários processos judiciais.
Contudo, e embora os Estados Unidos continuem oferecendo uma recompensa de até 5 milhões de dólares por qualquer informação que possa conduzir a sua captura, Timochenko pôde participar dos diálogos de paz em Cuba porque mais de cem ordens de prisão contra ele foram especialmente suspensas com este objetivo.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”