Enquanto a União Europeia (UE) busca soluções para o drama humanitário em decorrência do aumento do fluxo de imigrantes no continente, as nações do outro lado do Atlântico também se ofereceram para ajudar no combate à crise migratória.
A Venezuela se disse preparada para aceitar 20 mil imigrantes, enquanto a presidente chilena, Michelle Bachelet, afirmou estar trabalhando para abrigar “um grande número de refugiados”.
No Brasil, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o país está “de braços abertos” para receber os imigrantes. Já a província canadense de Quebec afirmou que receberá 3.650 refugiados em 2015.
Segundo a ONU, em 2015 cerca de 400 mil pessoas chegarão à Europa pelo Mediterrâneo. Para 2016, a previsão é de 450 mil.
Na terça-feira (8), o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou que o país está em condições de receber 500 mil fugitivos por ano por um período indeterminado, e o ministro das finanças, Wolfgang Schäuble — que reservou 6 bilhões de euros para a construção de novos abrigos — lembrou que “a política de refugiados tem prioridade absoluta para o governo alemão”.
Já na Espanha, a vice-presidente do governo, Soraya Saenz de Santamaría, após afirmar que o país havia recebido a tarefa de abrigar mais refugiados do que poderia, voltou atrás e indicou a disposição da Espanha de acolher o número determinado pela Comissão Europeia.
Embora ela não tenha discutido números, o plano de distribuição de 160 mil refugiados, que a Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira, prevê que o país receba mais de 19 mil imigrantes.
A decisão foi encarada como uma profunda mudança de posição por parte do governo, que rejeitou a proposta da Comissão em maio, alegando que o país enfrenta um cenário de 22% de desemprego, e que imigrantes chegam diretamente ao seu litoral. Originalmente, a Comissão propôs que a Espanha abrigasse seis mil refugiados entre os que já se encontravam no continente, mas o país só aceitou receber 2.749.
Resistência às cotas
Na Alemanha, a oferta de abrigo aos refugiados encontra respaldo também na parte conservadora da coalizão do governo da chanceler federal Angela Merkel. Mas a resistência ao sistema de cotas é grande, sobretudo nos países do antigo bloco comunista. O presidente polonês, Andrzej Duda, disse que o país estaria disposto a colaborar, mas somente na solução das causas da fuga.
“A Polônia não vai aceitar cotas”, afirmou também a primeira-ministra Ewa Kopacz.
Também em Lituânia, Letônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria as posições são semelhantes. Segundo o cientista político Herfried Münkel, da Universidade Humboldt, de Berlim, os países do bloco oriental veem a UE como uma forma de tirar proveito material, e não como um ideal, que é compartilhado pelos países fundadores.
“Os países do Leste não têm a mesma tradição de asilo que tem a Alemanha”, disse.
‘Vitória do Estado Islâmico’
Na ilha grega de Lesbos, onde cerca de 20 mil refugiados aguardam a céu aberto a oportunidade de chegar a Atenas, o porto local se transformou em palco de confrontos entre a multidão de desabrigados e a polícia.
As tensões também são altas na fronteira do país com a Macedônia, onde oito mil pessoas esperam a chance de seguir rumo à Europa Ocidental. Na Dinamarca, uma estrada foi fechada para evitar o avanço de um grupo de refugiados que se encaminhava para a fronteira com a Suécia.
Em Paris, após uma reunião com representantes de 60 países, o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, alertou que a absorção de todos os imigrantes da Síria e do Iraque seria “um erro”.
“Se todos os refugiados deixarem a região, o Estado Islâmico terá vencido”, afirmou Fabius. “Nosso objetivo é que o Oriente Médio continue sendo o Oriente Médio, uma região que inclui minorias como cristãos e yazidis”.
O ministro anunciou um pacote extra de 25 milhões de euros, que serão usados para livrar a cidade de Kobani de minas terrestres, e em projetos de habitação em Irbil, no Curdistão iraquiano. O pacote se soma aos 100 milhões de euros que Paris já oferecia, destinados principalmente aos campos de refugiados na região.
“A onda migratória não é um incidente isolado, mas o início de um verdadeiro êxodo em massa, o que significa que lidaremos com esse problema por muitos anos”, afirmou o polonês Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu.