O governo da China acusou hoje o Ocidente de matar civis na Líbia por meio dos ataques aéreos autorizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pediu um cessar-fogo imediato no país do norte da África. "O propósito da resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU é proteger a segurança dos civis, mas as ações militares tomadas por certos países relevantes estão causando mortes civis", disse Jiang Yu, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. "Nós nos opomos ao uso da força, que poderia resultar em mais mortes civis e em uma maior crise humanitária."
Os ataques aéreos na Líbia começaram no sábado e já foram conduzidos por Estados Unidos, Reino Unido e França. A intenção dessas ações é garantir o cumprimento de uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança, que prevê ações militares e uma zona de exclusão aérea na Líbia para proteger rebeldes e civis das forças do governante líbio, Muamar Kadafi. A administração líbia afirmou que os ataques mataram civis inocentes. O Pentágono, porém, negou a afirmação, dizendo que não há indicação de mortes civis, mas confirmando que dezenas de combatentes do regime foram mortos.
A China e a Rússia foram as vozes mais importantes que se opuseram à ação militar na Líbia, entre os 15 membros do Conselho de Segurança. Porém as duas nações não usaram seu poder de veto, prerrogativa dos membros permanentes, para barrar a resolução, preferindo se abster. O Brasil, membro temporário do Conselho de Segurança, também se absteve.
A imprensa estatal chinesa demonstrou forte oposição à operação militar, dizendo que ela iria resultar em mais conflitos na Líbia e em uma prolongada guerra civil. "A experiência histórica mostra que a chamada intervenção humanitária torna-se um pretexto para interferência militar nos assuntos políticos de outra nação", afirma o importante Diário do Povo, em um texto opinativo. "Ela é usada em nome da globalização, mas, na verdade se origina em interesses políticos e econômicos mesquinhos ou mesmo simplesmente porque eles não gostam de um certo líder."
A China, frequentemente criticada no exterior por desrespeitar os direitos humanos e pelo modo como trata suas minorias, se opõe geralmente a intervenções em outros países. Porém Pequim se rendeu à pressão internacional em alguns episódios na ONU, como ao aprovar sanções contra o Irã por seu controverso programa nuclear.
Turquia
Hoje, a Turquia descartou participar de uma missão de combate na Líbia, mas informou que pode se envolver na operação humanitária. "É impossível para nós pensar que nossos combatentes lancem bombas sobre o povo líbio", disse o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan ao jornal Hurriyet. "Nós não queremos que a Líbia se torne um segundo Iraque", advertiu ele. "Uma civilização entrou em colapso em oito anos (de invasão) no Iraque. Mais de um milhão de pessoas foram mortas ali."
A União Europeia (UE) confirmou, em decisão publicada hoje em seu diário oficial, o congelamento de bens de mais 11 funcionários líbios, incluindo oito ministros e o primeiro-ministro do regime. O congelamento de ativos abrange mais nove entidades, incluindo o Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social da Líbia e a Companhia de Investimento Africano Árabe Líbia, além de uma fundação de caridade internacional de Kadafi e três bancos comerciais. Com a publicação, passa a valer a decisão tomada ontem por chanceleres do bloco europeu.
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