O apelo do Dalai Lama para que o Tibete tenha um "alto grau de autonomia" nunca será aceito pela China, afirmou uma autoridade chinesa, adotando uma postura intransigente antes de negociações com tibetanos exilados a respeito do futuro daquela área.
Zhu Weiqun, vice-ministro do Departamento Frente Unida de Trabalho, pertencente ao Partido Comunista, disse nesta segunda-feira (10) que em reuniões ocorridas em Pequim, na semana passada, os enviados do Dalai Lama haviam defendido seu tradicional apelo por "autonomia genuína" para a região montanhosa.
Antes do próximo encontro com ativistas tibetanos exilados, os representantes do Dalai Lama haviam entregado ao governo chinês um "Memorando para todos os tibetanos gozarem de autonomia genuína". Mas a resposta manifestada por Zhu revelou intransigência.
A China "nunca permitiria um fracionamento étnico em nome da autonomia genuína", disse o vice-ministro em uma entrevista coletiva.
"Na verdade, eles tentam buscar uma base jurídica para a chamada independência do Tibete, ou semi-independência ou independência camuflada", afirmou Zhu, cujo departamento supervisiona os contatos do Partido Comunista com organizações religiosas.
As palavras de Zhu representam o primeiro comentário detalhado do governo chinês a respeito da rodada de reuniões realizada com os enviados entre os dias 31 de outubro e 5 de novembro, a nona do tipo desde 2002 e a primeira depois dos Jogos Olímpicos de Pequim.
E também deixaram clara a postura da China antes do encontro com os tibetanos exilados, alguns dos quais defendem uma postura mais radical do que a autonomia advogada pelo Dalai Lama.
"Os contatos e as negociações não avançaram. E eles devem assumir a responsabilidade plena por isso", acrescentou Zhu, referindo-se às reuniões da semana passada.
O governo tibetano no exílio culpa a China pelo fracasso da última rodada de negociações.
"Se fosse para rejeitar a autonomia regional, os chineses deveriam ter deixado isso claro desde o início", afirmou à Reuters, em Dharamsala (Índia) Karma Chophel, presidente do Parlamento tibetano no exílio. A cidade serve de sede para o governo no exílio.
Mas autoridades da China disseram que o único propósito das negociações era deixar claro para o Dalai Lama que o governo deles não relaxaria seu controle sobre a região, palco em março de distúrbios e protestos durante os quais manifestantes foram mortos.
O apelo do líder tibetano por um alto grau de autonomia para a região inclui áreas tibetanas situadas para além da Região Autônoma do Tibete. Zhu acusou o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de querer realizar uma "limpeza étnica" em toda essa área.
"Se algum dia de fato tomar o poder, ele realizará, sem qualquer remorso ou compaixão, atos de discriminação étnica, apartheid e limpeza étnica."
O Dalai Lama exilou-se em 1959 depois do fracasso de um levante contra o domínio chinês. Desde então, o líder tibetano, que continua a ser bastante reverenciado em sua terra natal, mora na Índia e viaja pelo mundo para defender sua causa.