O artista chinês dissidente Ai Weiwei prometeu nesta quarta-feira (02) lutar contra as acusações de evasão fiscal "até a morte" um dia depois de o governo ordenar que uma empresa ligada a ele pague 15 milhões de yuans (cerca de 4,2 milhões de reais) em impostos devidos e multas.
Weiwei, de 54 anos, um espinho no pé do governo por sua arte satírica e sua crítica da China contemporânea, foi detido sem acusações durante 81 dias, gesto que despertou o repúdio de governos ocidentais.
Ele foi solto no final de junho sob a condição de não falar com a mídia estrangeira, e desde então tem se mantido recluso e relutado em dar entrevistas.
Mas em uma conversa de duas horas com a Reuters, Ai, que participou da criação do estádio Ninho do Pássaro para as Olimpíadas de Pequim de 2008, exibiu rompantes de seu antigo eu combativo.
"Uma pessoa como Ai Weiwei pode se render? Em meu dicionário, não existe a palavra 'rendição'", declarou o artista em sua casa e estúdio no nordeste de Pequim, onde uma equipe de advogados e especialistas em impostos e sua mulher, Lu Qing, se reuniam.
"Pessoas comuns não seriam capazes de suportar isto. Mas por terem me escolhido como alvo, ainda estou disposto a segui-las neste caminho. Porque não as temo. Acho impróprio que um país se dedique a atividades vergonhosas."
Ai disse que as autoridades não lhe mostraram provas da suposta evasão fiscal e que disseram ao gerente e contador da Beijing Fake Cultural Development Ltd., que ajudou a produzir a arte internacionalmente reconhecida de Ai, que não se encontrasse com ele.
De acordo com Ai, o Bureau de Segurança Pública o tachou como o "membro controlador" da empresa, embora sua esposa seja a representante legal. Ai afirmou que se não pagar a penalidade, sua esposa pode ir para a prisão. "E por um país assim, irei combatê-los até a morte," disse.
Vitória moral
Ai declarou não ter dinheiro para pagar os impostos atrasados e multas dentro do prazo de 15 dias. Ele decidiu utilizar a casa de sua mãe de 79 anos, Gao Ying, como garantia antes de solicitar uma revisão administrativa, na qual um comitê reexamina o mérito de uma decisão oficial.
Ai, que já se pronunciou sobre assuntos que vão da concessão do prêmio Nobel da Paz do ano passado para o dissidente Liu Xiaobo até a censura da Internet, disse que virou alvo das autoridades por declarações dadas à revista Newsweek nas quais afirmou que os direitos dos cidadãos chineses estão sendo violados.
"Há um julgamento na Internet todos os dias", disse, tendo o governo como acusado.
"Acho que venço moralmente. O gesto normal que adoto --simplesmente pedir a verdade-- se tornou heróico nesta nação."