A campanha republicana contra o plano do candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos para a economia ganhou um eco em português. "Este projeto de Barack Obama de aumentar as taxas das pequenas empresas para distribuir riqueza não tem nada a ver com a cultura americana, parece mais coisa de Cuba, da Venezuela, parece socialismo."
Quem disse isso foi Adão Giovanaz, catarinense que dirige o setor regional de uma rede de churrascarias brasileiras nos Estados Unidos. Em uma longa conversa com a reportagem do G1, Giovanaz disse não ser muito afetado diretamente pela escolha do próximo presidente do país, mas reproduziu as críticas recentes de John McCain, que disse que o projeto de Barack Obama quer transformar o país em uma social-democracia no modelo europeu.
A discussão sobre o plano dos dois candidatos para a economia ganhou destaque graças à crise financeira por que passa o país.
Barack Obama promete cortar impostos para 95% da população, e taxar mais quem ganha acima de U$ 250 mil por ano (cerca de R$ 595 mil), o que atinge pequenas e médias empresas, mas, segundo o candidato, "espalha a riqueza". John McCain, por sua vez, defende que os impostos de pequenas empresas sejam cortados para que elas possam contratar mais funcionários e movimentar a economia.
O restaurante que Giovanaz dirige na maior cidade do Texas está um pouco acima das pequenas empresas, e emprega cerca de 90 funcionários, 15 deles brasileiros. Todos os dias, mais de 500 pessoas são servidas em sistema de rodízio no estilo gaúcho, pagando US$ 48 por pessoa (R$ 114) - o faturamento da filial de Houston ultrapassa os U$ 20 milhões por ano. "Se o governo aumentar os impostos, todas as empresas vão repassar esse gasto para os consumidores, não vai adiantar de nada", disse, na noite de terça-feira (21), no salão lotado da churrascaria.
Segundo ele, a crise econômica ainda não atingiu a cidade, que continua consumista e enchendo as lojas e restaurantes. Tanto que a rede para que trabalha continua crescendo, e deve inaugurar cinco novos restaurantes no país até o final do próximo ano. "O negócio é investir em carne."
Torcida
O catarinense vive no país há 11 anos, oito deles em Houston, mas não tem cidadania norte-americana, então não pode votar. "Mesmo assim, a gente acompanha as eleições, assiste pela televisão, comenta uns com os outros", disse, se referindo ao grupo de brasileiros que trabalha no local. "Uns torcem por Obama, outros preferem McCain, mas é uma coisa meio irracional, como a escolha de um time de futebol."
Sem fazer uma defesa aberta de nenhum dos candidatos à Presidência, Giovanaz se anima com a idéia que os dois defendem do "sonho americano". Segundo ele, o país oferece oportunidades para quem quiser trabalhar duro para agarrá-las. "Tenho garçons que ganham US$ 100 mil por ano [equivalente a quase R$ 20 mil por mês], oferecemos seguro de saúde, seguro dental. Aqui não é preciso defender nenhuma mudança radical, só se esforçar para alcançar o que se busca", disse, criticando projetos assistencialistas de distribuição de renda para pessoas mais pobres.
Além de não achar necessária tanta mudança quanto defendem os dois candidatos que disputam a Casa Branca, o catarinense diz que os discursos são só parte da campanha, e que nada vai ser transformado com nenhum dos dois presidentes. "Não importa quem esteja no governo. Já trabalhei aqui quando o governo era republicano e já trabalhei quando era democrata. Os dois tornaram tudo o que foi construído aqui possível", disse.
Carne
Por mais sucesso que o estilo brasileiro de preparar e servir o churrasco faça nos Estados Unidos, a principal atração aqui em Houston não é a picanha, como no Brasil. "Aqui eles gostam mais de filé, de fraldinha. Ainda não conhecem bem a picanha", disse Giovanaz. O restaurante que ele dirige serve em média 20 toneladas de carne por mês.
O gado usado é criado nos Estados Unidos (com ração, e não com pasto) e a carne fica mais gordurosa. Um fornecedor local aprendeu os cortes brasileiros, muitos deles inexistentes no mercado comum dos Estados Unidos. Segundo Giovanaz, o norte-americano consome mais carnes do que o brasileiro no sistema de rodízio. "Mas ele desperdiça mais, pois pede qualquer carne que passe por ele."