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A morte do antropólogo Claude Lévi-Strauss, anunciada na terça-feira (3), motivou declarações e homenagens em todos os maiores centros mundiais de estudos das ciências humanas e não é difícil entender por quê.

Foi o modo de vida de índios brasileiros que provocou os primeiros passos de uma revolução na maneira de como pensar a humanidade. O intérprete da mudança foi o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Na década de 1930 ele saiu de uma Paris cosmopolita e se embrenhou no Cerrado, no Pantanal e na Amazônia.

A antropóloga da Universidade de São Paulo (USP), Sylvia Caiuby, diz que ao conviver com os bororos, os nhambiquaras e outras etnias, Lévi-Strauss chegou a uma conclusão inovadora.

"Que o modo de pensar dos índios é absolutamente idêntico ao nosso e o que o Lévi-Strauss vai mostrar é essa universalidade do pensamento humano, seja o pensamento dos ditos povos selvagens, seja o pensamento dos ditos povos civilizados. A importância disso é mostrar que, na verdade, não se pode hierarquizar povos, não se pode hierarquizar culturas, como se alguns fossem superiores a outros", explicou ela.

Foi Lévi-Strauss quem mostrou que as sociedades podiam andar por caminhos diferentes. Por isso, diz a antropóloga Dorothea Passeti, o encontro com os índios foi decisivo.

"Provoca nele uma defesa que ele vai levar até o resto da vida dele pela diversidade cultural, pela necessidade da existência de povos diferentes. Não é pelo direito, é pela necessidade. Uma humanidade que seja igual, globalizada, todo mundo do mesmo jeito, comendo a mesma coisa não tem sentido. Isso é o fim do homem", explicou Dorothea.

E a antropóloga vai mais longe: a paisagem do Brasil Central também inspirou Lévi-Strauss e fez dele um pioneiro na defesa da natureza: "Para o Lévi-Strauss, o selvagem vive usando a natureza na medida em que ele precisa dela, só. E nós, os chamados civilizados, destruímos o planeta", declarou.

As ideias de Lévi-Strauss tiveram um forte impacto no pensamento moderno, principalmente em um momento muito importante do século XX. Foi depois da Segunda Guerra Mundial, depois das atrocidades cometidas pelo nazismo, que propagava a superioridade de uma raça em relação às outras. Lévi-Strauss aproveitou a experiência que teve com os índios brasileiros para combater todas as teorias racistas.

"Nesse sentido o pensamento dele é absolutamente atual, se a gente se lembra da dificuldade que a Europa enfrenta hoje em relação aos imigrantes e a discriminação de todos os imigrantes. O Lévi-Strauss vai mostrar exatamente que a discriminação não tem nenhuma justificativa científica", explicou Sylvia Caiuby.

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