“Nessa segunda-feira (7) amanheceremos novamente numa democracia de verdade”, exalta-se o preparador físico Gonzalo Ignacio, 50, ao mencionar o dia seguinte da eleição parlamentar venezuelana.
Como muitos opositores, Ignacio não apenas dá como certa a derrota do chavismo como também aposta que isso bastará para reverter rapidamente a grave crise econômica.
“Nem com todas as trapaças do mundo o governo será capaz de vencer. Ganharemos a Assembleia Nacional e, a partir daí, reconquistaremos o poder para pôr ordem na casa e trazer de volta investimento estrangeiro e prosperidade”, afirma, alheio ao fato de a economia ser controlada pelo Executivo.
O mototaxista Jesus Contreras, 20, também assume sua confiança inabalável na previsão de vitória opositora, alardeada por todas as pesquisas.
“Não conheço ninguém que esteja feliz com este governo. Depois de tanto tempo, nossa hora chegou. Vamos eleger a oposição para acabar com as filas e o desabastecimento”, afirma.
Como muitos outros venezuelanos, Ignacio e Contreras encaram o voto para escolher os 167 deputados da Assembleia Nacional unicameral como uma eleição tão importante quanto a presidencial.
Na prática, porém, a Venezuela tem um regime presidencialista no qual o poder do Legislativo depende do número de cadeiras conquistadas.
Para ter real capacidade de pressionar o Executivo, a oposição precisaria conquistar maioria qualificada superior a três quintos, um cenário capaz de desatar uma era de perigoso conflito entre poderes.
Além disso, o complexo sistema eleitoral venezuelano infla a representatividade de áreas rurais pouco povoadas para, segundo críticos, favorecer o voto governista. Isso significa que a oposição pode conquistar mais votos e ficar com menos deputados, a exemplo do ocorrido na última eleição parlamentar, em 2010.
Nesta eleição, o think thank norte-americano Centro para a Pesquisa Econômica e Política avalia que o chavismo só precisa de pouco mais de 42% dos votos para conservar o domínio do Parlamento.
Mesmo em caso de vitória opositora esmagadora, economistas coincidem em que levaria tempo, anos talvez, até reverter o cenário de inflação de três dígitos, desabastecimento e recessão.
Nada disso, porém, parece suficiente para frear a euforia opositora.
Cheiro de vitória
“Uma mudança profunda está prestes a ocorrer. Esta eleição é muito parecida com o pleito presidencial de 1998, quando estava claro que [Hugo] Chávez iria ganhar. Desta vez, o cheiro da nossa vitória está no ar”, disse à reportagem o ex-candidato à Presidência e governador do Estado de Miranda Henrique Capriles, cabo eleitoral da MUD.
Candidatos da coalizão opositora parecem não ter resposta pronta quando questionados sobre o clima de “já ganhou”.
“Nenhum cenário pode ser descartado em matéria de política. Dito isso, nosso medo não é perder, mas ser vítimas da manipulação dos resultados pelo governo”, disse Julio Borges, deputado candidato à reeleição e porta-voz da MUD na campanha.
A declaração de Borges indica que parte da oposição está disposta a contestar o resultado das urnas em caso de vitória chavista, cenário potencialmente explosivo.
O governo zomba do favoritismo da MUD. O atual presidente da Assembleia Nacional, o todo-poderoso Diosdado Cabello, prometeu estampar o resultado das pesquisas eleitorais que previam vitória opositora em seu programa de TV na próxima quarta-feira (9).
Ignacio, o preparador físico, fica pálido ao pensar em mais uma vitória chavista.
“Moral e psicologicamente, seria um golpe muito duro para milhões de venezuelanos. Acho que eu não aguentaria mais viver aqui e iria embora para outro país.”
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais