Até 200 mil haitianos poderão contrair cólera à medida que o surto, que já fez 800 vítimas, se disseminar pelo país, de 10 milhões de habitantes, informou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira.
Seria o dobro dos casos de uma epidemia gigantesca de cólera no Zimbábue, ocorrida entre agosto de 2008 e julho de 2009, que matou 4.287 pessoas. A estimativa da ONU para o número de casos no Haiti baseia-se em parte no caso do Zimbábue.
Em um plano estratégico desenvolvido com o governo do Haiti e com agências de ajuda humanitária, a ONU disse que o Haiti precisa de um auxílio de 163,9 milhões de dólares ao longo do ano que vem para combater a epidemia, o primeiro surto de cólera no país em um século. O cólera também deve se espalhar para a vizinha República Dominicana, informou a organização.
"A estratégia antecipa que um total de até 200 mil pessoas deverão ter os sintomas do cólera, indo dos casos de leve diarréia até a desidratação mais grave", disse Elisabeth Byrs, do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), numa entrevista coletiva em Genebra nesta sexta-feira.
"Espera-se que os casos surjam numa explosão de epidemias que ocorrerão subitamente em diferentes partes do país", afirmou ela.
O total de mortes em decorrência do surto subiu para 800 na quinta-feira. Ao menos 11.125 pacientes foram internados desde o início do surto, há mais de três semanas.
"A taxa de mortes não está aumentando, mas ainda é muito mais elevada do que o habitual: de 6 a 7 por cento. Deveria ser muito mais baixa", disse o porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gregory Hartl, na mesma entrevista coletiva.
Fatores de risco clássicos
A epidemia no Haiti foi agravada pelas enchentes causadas pelo furacão Tomas este mês e soma-se à emergência humanitária na esteira do forte terremoto de janeiro, que matou mais de 250 mil pessoas.
O tremor deixou cerca de 1,5 milhão de pessoas desabrigadas. As condições de moradia no país mais pobre do Hemisfério Ocidental deixam as pessoas extremamente vulneráveis à doença, disseminada por meio da água ou dos alimentos.
Toda a população está sob risco porque ninguém tem imunidade ao cólera.
O país tem todos os fatores de risco clássicos para a doença - acampamentos superlotados para os sobreviventes desabrigados pelo terremoto, escassez de água potável, eliminação imprópria de dejetos humanos e contaminação de alimentos durante ou após seu preparo.
Já foram confirmados casos em cinco dos dez departamentos, incluindo na capital, Porto Príncipe.
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