Um novo partido acusado de ter ligações com grupos criminosos de direita emergiu como uma inesperada força nas eleições legislativas de domingo na Colômbia, ampliando as preocupações do presidente Álvaro Uribe, que fracassou em acabar com os paramilitares nas províncias.
O Partido Integração Nacional (PIN) tornou-se a quarta agremiação mais votada nas eleições para renovar o Congresso, já afetado por deputados ligados às milícias de direita. O partido é formado principalmente por parentes e amigos de deputados presos ou sob investigação por supostas ligações com paramilitares. O PIN conquistou cerca de 1 milhão de votos, apesar de os aliados de Uribe estarem na frente.
"Não é nenhum segredo que as máfias do narcotráfico e alguns remanescentes dos grupos paramilitares estejam infiltrados no sistema político da Colômbia", observa Michael Shifter do centro de estudos de Washington Diálogo Interamericano. "Mas sua capacidade de se organizar politicamente no atual contexto é notável, e profundamente preocupante."
As autoridades eleitorais da Colômbia iniciaram nesta terça-feira (16) a recontagem final dos votos das eleições legislativas e da consulta do Partido Conservador, para saber o quanto antes a composição do Congresso e o vencedor da disputa pela nomeação presidencial da aliança governista. É dada como certa a candidatura do ex-ministro da Defesa Manuel Santos.
Apesar de o Partido Conservador de Uribe ter dominado a votação, na qual foram eleitos 102 senadores e 166 deputados, ainda não se conhece a composição definitiva do Congresso. O atraso na contagem foi provocado pela complexidade das cédulas eleitorais e falhas técnicas nas transmissões de dados.
A votação de domingo é um indicador-chave da preferência dos colombianos para as eleições presidenciais de 30 de maio e um medidor da performance de Uribe contra os dois principais desafios do país andino: o crime organizado e a corrupção envolvendo o narcotráfico. Uribe permanece altamente popular na Colômbia por ter enfraquecido as guerrilhas esquerdistas, mas o presidente não conseguiu reduzir o poder dos grupos paramilitares.
Candidatos ex-reféns das Farc
Quatro dos cinco ex-reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que optaram pela carreira política saíram das eleições legislativas do último domingo no país com suas ambições frustradas.
O único candidato bem-sucedido, Jorge Gechem, conseguiu uma vaga no Senado pelo Partido Social de Unidade Nacional, do presidente Uribe. Os outros quatro, que se candidataram pela oposição, saíram derrotados.
A mais conhecida deles, a ex-candidata a vice-presidente Clara Rojas, não conseguiu uma vaga no Senado pelo oposicionista Partido Liberal. Clara foi sequestrada com a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt em 2002. Ela teve um filho no cativeiro com um guerrilheiro e foi libertada em 2008.
Clara é uma das ex-reféns mais polêmicas do grupo que passou anos na selva. Alguns companheiros de cativeiro a acusaram de ter colaborado com os sequestradores em troca de regalias, o que ela nega. O episódio de sua gravidez nunca foi esclarecido. Em livro, ela disse apenas que seu parto foi feito em condições precárias. Clara está rompida com Ingrid.
Consuelo González, solta com Clara, também não deve conseguir uma vaga na Câmara. Luís Eládio Perez e Orlando Beltrán, outros ex-reféns libertados em 2008, também foram derrotados. Também fracassou nas urnas Gustavo Moncayo, pai do refém Pablo Emílio Moncayo - único familiar das vítimas a se lançar na política.
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