O vice-presidente da Venezuela, Ramón Carrizalez, descartou nesta quarta-feira (29) o fechamento da fronteira com a Colômbia, após o governo venezuelano ter anunciado nesta terça-feira (28) que congelará suas relações com o país vizinho. Carrizalez admitiu, no entanto, que o comércio com a Colômbia será reavaliado. Enquanto isso, em Bogotá, dirigentes empresariais colombianos expressaram suas preocupações a respeito do "congelamento" ou embargo declarado aos produtos colombianos anunciado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
"Não foi ditada nenhuma ordem para fechar as fronteiras. Por enquanto, estudamos e avaliamos toda a situação, todas as áreas e todo o comércio", disse Carrizalez à imprensa, ao ser consultado sobre quais ações a Venezuela irá tomar após as declarações de Chávez.
"Não cederemos à chantagem", disse o vice-presidente venezuelano, no Estado de Táchira, que faz fronteira com a Colômbia. Carrizalez disse que a Venezuela preservará a "soberania alimentar" do país e combaterá o contrabando feito à Colômbia.
Na noite da terça-feira Chávez fez duras críticas ao governo colombiano, após a Venezuela ter sido indicada como origem de armamentos comprados na Suécia que caíram nas mãos da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Chávez disse que o governo do presidente colombiano Alvaro Uribe é "irresponsável".
Em reação às acusações da Colômbia, Chávez ordenou a saída do embaixador da Venezuela em Bogotá, Gustavo Márquez, e do pessoal diplomático de destaque na capital colombiana.
Carrizalez considerou como "muito cínico" o governo colombiano pelas acusações feitas à Venezuela e disse que o país vizinho deveria ter antes recorrido aos canais oficiais para conversar sobre a questão.
"É evidente que os funcionários do governo colombiano ficam declarando essas coisas para justificar o injustificável. Para justificar a grande quantidade de tropas e material militar norte-americanos que entrarão nas bases colombianas", disse o vice-presidente.
Para ele, o aumento da presença de militares dos EUA na Colômbia não será para combater o tráfico de drogas.
Carrizelez lembrou um ataque que a guerrilha colombiana do Exército de Libertação Nacional (ELN) fez em 1995 contra o posto fronteiriço militar venezuelano de Carabobo, no Estado de Apure, no qual oito fuzileiros navais venezuelanos foram mortos e muitos equipamentos militares foram levados pelo ELN. Carrizalez disse que entre o equipamento estavam lançadores de foguetes. "O tráfico de armas é um problema mundial", disse.
Em Bogotá, o empresariado colombiano ficou preocupado com o anúncio feito ontem por Chávez. O presidente da comissão de assuntos fronteiriços da maior câmara empresarial da Colômbia, Isidoro Teres, disse à AP que a declaração de Chávez "gera um certo pânico em alguns setores da população" por causa da dependência da Venezuela aos produtos colombianos.
Teres indicou que a Venezuela importa da Colômbia "produtos de primeiríssima necessidade", como carne bovina, carne de frango, leite e derivados, sopas preparadas, artigos de higiene e até aparelhos de linha branca, como geladeiras.
"São artigos que não podem ser substituídos de um dia para o outro", afirmou. Segundo ele, se a Venezuela fizer isso de maneira brusca terá problemas ainda mais sérios de desabastecimento.
Teres disse que a relação comercial com a Venezuela é estratégica para a Colômbia. Ele estima que cada US$ 1 bilhão exportados em mercadorias ao país vizinho representem entre 250 mil e 300 mil empregos na Colômbia.
De acordo com informações oficiais, entre janeiro e maio deste ano a Venezuela importou US$ 2,5 bilhões da Colômbia, o que representou 15% das suas importações totais, superadas apenas pelas mercadorias que Caracas comprou dos Estados Unidos, no valor de US$ 4,3 bilhões.
O presidente da Federação das Câmaras de Empresas e do Varejo do Estado de Táchira, José Rozo, disse que possível redução ou corte no comércio com a Colômbia "golpeará os setores mais vulneráveis no tecido social" da Venezuela, porque o comércio entre os dois países gera 20 mil empregos diretos e indiretos apenas no lado venezuelano.
Empresários colombianos disseram esperar que as declarações de Chávez não passem de mais uma "bravata" do líder bolivariano.
"A Venezuela é nosso principal mercado e conquistar novos mercados não é algo que possa ser feito imediatamente", disse Iván Amaya, presidente da Associação Colombiana de Produtores de Têxteis (Ascoltex). As informações são da Associated Press.
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