O acordo para troca de combustível com o Irã, firmado após conversas entre o presidente Lula, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan foi recebido com cautela pela comunidade internacional. Pelo acordo, o Irã enviará 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido à Turquia e, em troca, receberá 120 quilos de combustível nuclear para seu reator em Teerã.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) quer uma "notificação por escrito" de Teerã sobre o acordo por escrito. "A AIEA recebeu o texto da declaração conjunta do Irã, Turquia e Brazil, assinado hoje em Teerã, disse o porta-voz do órgão, Gill Tudor.
"Em linha com o que está declarado aqui, estamos agora esperando uma notificação por escrito do Irã de que concorda com as relevantes cláusulas incluídas na declaração", disse Tudor.
Um porta-voz da ONU disse que um acordo com o Irã para a troca do seu urânio pouco enriquecido por combustível nuclear na Turquia é "encorajador", mas que o Irã ainda precisa cumprir as resoluções do Conselho de Segurança. "Qualquer esforço para resolver diferenças em uma via diplomática como a que o Brasil e a Turquia estão tentando com o Irã é claramente algo encorajador, no sentido de que é importante que haja discussões", disse o porta-voz da ONU Martin Nesirky.
"Mas, como eu disse, a coisa mais importante é que já existem resoluções no Conselho de Segurança da ONU que precisam ser cumpridas", acrescentou.
Diplomatas ocidentais próximos à AIEA, o braço nuclear da ONU, disseram que o acordo não elimina a perspectiva de aplicação de novas sanções contra o Irã. "A questão não é o TRR (Teerã Research Reactor, o reator de pesquisas médicas que receberá o combustível enriquecido na Turquia, conforme o acordo desta segunda-feira). Eles estão sob as sanções por se recusarem a suspender o enriquecimento de urânio, é preciso não esquecer", disse um diplomata ocidental.
Para a diretora do escritório de Relações Exteriores da União Europeia (UE), Baroness Ashton, trata-se de "um movimento na direção correta, mas não responde a todas as preocupações levantadas sobre o programa nuclear do Irã." Segundo a chefe da política externa da UE, Catherine Ashton, o acordo responde "parcialmente" às exigências da AIEA.
A Casa Branca afirmou que não irá interromper os esforços para a aplicação de sanções mais duras contra o Irã e que os Estados Unidos e seus aliados têm "sérias preocupações" sobre o acordo. Apesar disso, o governo norte-americano não rejeitou categoricamente o pacto.
"Isso (o acordo) não muda os passos que nós estamos tomando para responsabilizar o Irã por suas obrigações, incluindo as sanções", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Ele notou, porém, que Teerã já afirmou que pretende continuar a enriquecer urânio a 20%. Ele disse que o prosseguimento dessa ação seria "uma violação direta às resoluções do Conselho de Segurança da ONU" e que os EUA ainda têm preocupações sobre a "confiança como um todo" do programa nuclear iraniano.
Gibbs disse que, caso o Irã concorde em transferir urânio enriquecido para outro país, esse seria um "passo positivo". Ele notou, porém, que Teerã já afirmou que pretende continuar a enriquecer urânio a 20%. Gibbs disse que o prosseguimento dessa ação seria "uma violação direta às resoluções do Conselho de Segurança da ONU".
O acordo provavelmente complicará a ação norte-americana para pressionar por uma nova rodada de sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, que seria a quarta. Os países liderados pelos EUA temem que o Irã busque secretamente armas nucleares, mas Teerã garante ter apenas fins pacíficos.
Gibbs cobrou atitudes do Irã para demonstrar que seu programa nuclear tem fins pacíficos, e "não apenas palavras". Segundo o porta-voz, os EUA continuarão a trabalhar com seus parceiros internacionais por uma solução diplomática, mas considerarão sanções contra o país, caso ele não obedeça aos padrões internacionais nessa área.
O Irã já sofreu três rodadas de sanções das Nações Unidas por se recusar a suspender o enriquecimento de urânio, que o Ocidente teme que se converta em um programa de desenvolvimento de armas nucleares. Teerã insiste em prosseguir com o enriquecimento, mesmo após a assinatura do acordo de troca de combustível.
A AIEA tenta atrair o Irã desde outubro para assinar um acordo para enviar seu urânio pouco enriquecido ao exterior e receber em troca combustível para o reator de pesquisas. Mas o Irã tem evitado o acordo, insistindo em querer manter o urânio em seu próprio território para troca simultânea de combustível ao reator.
O vice-ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Alistair Burt, afirmou que o Irã ainda é "uma séria causa de preocupação", apesar do acordo nuclear. Burt disse que o
caso vá enviar parte de seu urânio pouco enriquecido para o exterior, no âmbito do acordo fechado com Brasil e Turquia.
"As ações do Irã permanecem uma séria causa de preocupação, em particular por sua recusa em se reunir para discutir seu programa nuclear ou cooperar totalmente com a AIEA, e por sua decisão de começar a produzir urânio pouco enriquecido a 20%", acrescentou Burt, em comunicado divulgado pelo Escritório das Relações Exteriores do Reino Unido.
Já o principal comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), almirante James Stavridis, afirmou que o acordo para troca de urânio enriquecido do Irã na Turquia é "um desenvolvimento potencialmente bom". "Eu penso que este é um exemplo do que todos buscamos, que é um sistema diplomático que encoraje o bom comportamento como parte do regime iraniano", afirmou Stavridis.
O almirante disse que o acordo é potencialmente bom, mas acrescentou que "obviamente nós temos um milhão de milhas a percorrer".
Mas o presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, disse que novas negociações são necessárias. "O que foi feito por nossos colegas precisa ser saudado. Esta é a política da solução diplomática para o problema do Irã", disse Medvedev a jornalistas durante uma visita a Kiev. "Precisamos fazer consultas com todos os lados, incluindo o Irã e então determinar o que fazer em seguida."
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