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Meio ambiente

Conferência do clima derrapa na reta final

Performance de ativistas do Greenpeace questiona se há “esperança” de um acordo para o clima, em praia de Cancún, no México | Henry Romero/Reuters
Performance de ativistas do Greenpeace questiona se há “esperança” de um acordo para o clima, em praia de Cancún, no México (Foto: Henry Romero/Reuters)

Cancún - A conferência do clima de Can­­cún entrou em seu momento decisivo ontem com um alerta da comissária europeia do clima, Connie Hedegaard, sobre o risco de um colapso nas negociações daqui para a frente.

"Se não houver vontade de aceitar um compromisso, estaremos mais para Doha do que para Durban’’, disse a dinamarquesa, referindo-se ao impasse nas conversações sobre comércio internacional, a Rodada Doha.

Durban é o balneário sul-africano que sediará, em 2011, a COP-17, a próxima conferência da Convenção do Clima da ONU. Muitos países, em especial as ilhas do Pacífico, ameaçadas em sua sobrevivência pela elevação do nível do mar, defendem que seja firmado ali um acordo internacional contra o aquecimento global, que tenha validade de lei.

Para que isso ocorra, porém, um pacote ambicioso de decisões precisava ser aprovado em Can­­cún. Até o fechamento desta edição, a possibilidade de isso ocorrer e o teor das principais decisões estavam em aberto.

E, mesmo que obtenha algum sucesso, a reunião de Cancún es­­tará longe de produzir qualquer acordo que tenha alguma relevân­­cia para atacar a crise do clima.

Madrugada

Os negociadores ficaram até alta madrugada ontem tentando re­­solver questões como a continuidade do Protocolo de Kyoto, um acordo sobre redução de emissões por desmatamento (Redd+) e a criação de um Fundo do Clima para financiar ações de corte de emissões e adaptação nos países pobres.

Mas pela manhã, quase tudo seguia sem consenso, pendente de uma decisão política dos ministros que vieram para o final da conversa.

Duas altas autoridades de países em desenvolvimento, ouvidas pela reportagem, afirmaram que um dos principais entraves na ma­­drugada foi a Bolívia. O país insistia em bloquear as discussões sobre o Redd+, em grande parte por motivos ideológicos do governo de Evo Morales. Os bolivianos, anticapitalistas, não admitem a menção a mecanismos de mercado no acordo sobre florestas.

A Aosis (Aliança dos Pequenos Estados Insulares) também marcou posição forte nas negociações. As ilhas exigem que seja formalmente reconhecido que a reunião de Durban é a data-limite para a assinatura do chamado instrumento legalmente vinculante (ou seja, o novo tratado do clima).

Muitas delegações, a do Brasil inclusive, acham que tal data é impraticável, já que as metas de redução propostas até agora são fracas – e não deveriam ser "cristalizadas’’ em tratado.

Drible

Um dos principais entraves ao progresso em Cancún, porém, parece ter saído do caminho. O subterfúgio, construído com ajuda de Brasil e Reino Unido, conseguiu driblar a resistência japonesa a aderir a uma segunda fase do Protocolo de Kyoto.

A solução encontrada foi inscrever as metas voluntárias que os países (o Japão inclusive) apresentaram no Acordo de Copenhague no documento sobre países sem obrigações em Kyoto (como os EUA e os países emergentes), co­­nhecido como LCA.

Os textos de Kyoto e do LCA "to­­mam nota’’ dos compromissos, mas não obrigam ninguém a fa­­zer coisa alguma. Isso sinaliza que Kyoto pode continuar existindo, mas que o segundo período só será definido no futuro.

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